Mente & Corpo - 1ª Edição | Page 21

Débora Felix - Psicóloga

“Desde quando me convidaram para falar sobre como é ser mulher nessa sociedade, eu estou pensando, pensando e pensando e concluo que é muito difícil pensar nisso, porque existem muitos pontos que não dá para excluir quando eu penso na minha vivência. Não dá para eu pensar em como é ser mulher sem excluir o fato de que sou uma mulher preta em uma sociedade racista, que mata, estupra, silencia, sexualiza e diminuiu quem nós somos. Eu poderia florear e deixar bem bonito esse texto, até porque na chamada diz ‘mulheres através da arte de simplesmente existir’ mas, sinceramente, eu acho que é nada simples existir em uma sociedade como essa, cheia de desafios, principalmente se você é preta. As desigualdades que permeiam nossas vidas são mais gritantes quando se trata de mulher preta. O mapa da violência está aí para comprovar o que estou dizendo e não é uma realidade distante, está acontecendo com a nossa mãe, nossa vizinha, nossa a prima, nossa a melhor amiga. Acontece comigo todos os dias quando eu tento só existir, mas o racismo não deixa. A gente precisa olhar para isso e entender que o assédio com a gente acontece muito cedo, quando nossos corpos são sexualizados desde a infância. A gente não está sendo escolhida para ser a garota do baile ou aquela para ter um relacionamento sério. A solidão permeia nossas vidas desde muito cedo. A solidão tem cor! O feminicídio tem cor e a desigualdade social, quando falamos de mulheres, também tem cor! Não dá para eu falar de como é ser mulher apenas para mim se eu faço parte de um todo, de uma luta que as minhas antepassadas travaram para eu estar aqui”.

Mesmo com estilos de vida, ideais ou crenças diferentes, Gabriela, Rebecca, Verônica e Débora têm algo em comum: a força em ser mulher, a coragem para lutar todos os dias contra todos os abusos, agressões, violências que estão imersos em uma cultura arcaica e antepassada que sempre tenta fazer delas vulneráveis em nossa sociedade. Mas a existência dessas mulheres prova o contrário. A verdade que sempre prevalecerá é que a humanidade é livre de padrões, definições comportamentais, profissionais e sociais, e como a ativista política Simone de Beauvoir já disse: “que nada nos defina, que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria substância, já que viver é ser livre”.