Maio 2018 Maio 2018 | Page 7

RECONHECENDO O RACISMO NA SOCIEDADE

Quando perguntada como o racismo opera na manutenção das desigualdades raciais no

Brasil, Edna Roland, conhecida militante do movimento negro e relatora da III

Conferência das Nações Unidas contra o Racismo, Xenofobia e Intolerância Correlata,

realizada, em Durban, na África do Sul, em setembro de 2001, comparou o racismo no

Brasil à Hidra de Lerna, ser mitológico de várias cabeças. Quando se arranca uma das

cabeças, logo nasce outra e mais outra, em vários lugares e posições. O racismo, para ela,

está entranhado nas relações sociais no Brasil. Uma outra característica é que a expressão

do racismo se modifica com o tempo, manifestando-se em diferentes e novas formas,

gerando e mantendo intacta a perversa estrutura de desigualdade entre a população

negra e branca no país.

O racismo é identificado e reconhecido pela população brasileira. Uma pesquisa de opinião

realizada pela Fundação Perseu Abramo em 2003 (Santos & Silva, 2005), demonstra que

87% dos brasileiros/as admitem que há racismo no Brasil, contudo apenas 4% se

reconhecem como racista. Podemos extrair duas consequências desses dados: a primeira é

que o racismo existe não pela consciência de quem o exerce, mas sim pelos efeitos de quem

sofre seus efeitos. A segunda consequência é que o racismo no Brasil, embora perceptível,

se localiza sempre no outro.