RECONHECENDO O RACISMO NA SOCIEDADE
Quando perguntada como o racismo opera na manutenção das desigualdades raciais no
Brasil, Edna Roland, conhecida militante do movimento negro e relatora da III
Conferência das Nações Unidas contra o Racismo, Xenofobia e Intolerância Correlata,
realizada, em Durban, na África do Sul, em setembro de 2001, comparou o racismo no
Brasil à Hidra de Lerna, ser mitológico de várias cabeças. Quando se arranca uma das
cabeças, logo nasce outra e mais outra, em vários lugares e posições. O racismo, para ela,
está entranhado nas relações sociais no Brasil. Uma outra característica é que a expressão
do racismo se modifica com o tempo, manifestando-se em diferentes e novas formas,
gerando e mantendo intacta a perversa estrutura de desigualdade entre a população
negra e branca no país.
O racismo é identificado e reconhecido pela população brasileira. Uma pesquisa de opinião
realizada pela Fundação Perseu Abramo em 2003 (Santos & Silva, 2005), demonstra que
87% dos brasileiros/as admitem que há racismo no Brasil, contudo apenas 4% se
reconhecem como racista. Podemos extrair duas consequências desses dados: a primeira é
que o racismo existe não pela consciência de quem o exerce, mas sim pelos efeitos de quem
sofre seus efeitos. A segunda consequência é que o racismo no Brasil, embora perceptível,
se localiza sempre no outro.