Jamais falhariam , esperaríamos , regressaríamos , visitaríamos portos e aeroportos , impressionando os subalternos com nossos sobrenomes , percorreríamos , sem querer , tudo aquilo que já percorremos , ignorando as conveniências de lugar e tempo ; pois a vida que nos deram para viver , nós a vivemos , satisfazendo as poucas formas de encanto que encontramos .
Ocasiões nos surpreenderiam : reuniões , casamentos , despedidas , nós dois mais velhos , cansadas da vida , dominados por nossas próprias conclusões , construções implacáveis da única lógica que conseguimos conceber :
“ Nem chegamos a ver o tempo passar .” “ Nem parece mais você .”
E pensar que há vinte anos não os via ... há vinte anos a simples menção de seus nomes inexistia ; e agora teria de rodeá-los e ser rodeado , analisá-los e ser analisado , retornar às mesmas ânsias em circunstância solene , retornar , retornar , retornar ... como se de retornos ainda fosse capaz ; afinal , ainda os conheço como conhecia , os reconheço como reconhecia vinte anos atrás .
Semelhanças ... Semelhanças ...
( Duas sombras )
“ Quem és tu que espreitas o velho sorriso , única chance de retorno possível ?”
“ Talvez o mesmo que és . E tu , quem és ?” “ Sou teu espelho .” “ Espelho de quem ? De qual sedutor ?” “ Do olho de carne que jamais saciou .” “ Duvido , mas entendo . E aqui estendo minhas mãos a ti .”
Foi-me entregue então um globo ocular que comparado ao peso de todo meu ouro fez o ouro alheio nada parecer pesar .
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