Madame Eva Nº1 | Page 28

“ Pauliceia Desvairada” uma estampa de losangos – a influência de Eládio se petrificou no mundo artístico brasileiro com a redescoberta casual de seu livro entre os pertences da musa de Apollinaire.
Hoje, são poucos os exemplares restantes do“ Os de Michaelis” – o que naturalmente transformou o livro numa peça de cobiça caríssima aos bibliófilos do país. Diversos artistas e críticos tentaram reeditar a obra de Eládio, esbarrando sempre, porém, na negativa de seus herdeiros, inconformados com a transformação da obra de seu pai em bufonaria vanguardista. Ninguém sabe ao certo como o matemático reagiria ao saber do inesperado sucesso que sua obra teve no meio artístico; mas até o final do ano, a questão deve se resolver na seara do direito, uma vez que passados setenta anos desde sua morte, os direitos autorais de Eládio entrarão definitivamente em domínio público.
Seja como for, os losangos de Eládio Santos fazem parte do submundo da arte do século XX.“ Os De
Michaelis” influenciou uma geração, para o bem ou para o mal da vontade de seu autor, e a divulgação das ideias marcantes do inesperado teórico das formas não pode ser censurada. Eládio Santos tem que se tornar nome comum na cultura nacional. Suas histórias têm que ser contadas. O estranho pedido de que fosse enterrado

26

em caixão losangular, para“ partir como vim, do quadrilátero da vulva de minha mãe, ao quadrilátero da urna de minha morte”, e tantas outras peculiaridades que caracterizaram o homem dos losangos precisam vir à tona! Eládio foi um cientista, matemático e filósofo, mas foi acima de tudo um pregador, desses que evangelizam por impulso, após terem encontrado a Verdade do mundo.
A sociedade artística brasileira, que não conseguiu convencer a família Santos, não pode deixar de homenagear o homem que a tantos inspirou. O artista que é artista se inspira até com quem não lhe quer inspirar, e o cientista – por sua vez – tem que reconhecer a utilidade múltipla de suas descobertas e teorias, por mais esdrúxulos que lhe possam parecer os seus desdobramentos. Por isso, o livro de Eládio deve ser reimpresso ano que vem, deve ter um prefácio de algum literato, um de Campos, um Gravina desses; deve ter uma reprodução facsimile da dedicatória de Picasso; deve ter uma compilação de influenciados confessos... Deve, sim, ser feita uma reedição de luxo que faça justiça à insanidade do“ homem d’ Os de Michaelis”, como ficou conhecido nosso Eládio Santos.
Isabel Cavalcante © 2016