LIBIDINOSO, PERVERSO, LICENCIOSO
LIBIDINOSO, PERVERSO, LICENCIOSO
Rafael Vieira Gomez
: Mas a gente pode conversar sobre isso, aliás, pelo andar das coisas, é cada vez mais importante tratar dessas pantanadas. Pode ser? Do que você gosta?
: Das coisas normais, mulher com homem, mulher com mulher, homem com mais de uma mulher e talvez, dependendo do tom da conversa, eu revele alguma modalidade mais bizarra que me agrada.
: Percebe? É por isso que esse assunto é tão complicado. Estamos aqui tomando nossas bebidas e completamente despidos, cheguei a sua casa há algum tempo e, ainda assim, você não quer enfrentar qualquer tipo de julgamento. Tudo bem, eu falo os meus, todos os meus. Eu gosto daqueles feitos pra mulher, não me agrada mulher com mulher, mas eu gosto de homem com homem.
: Homem com homem? Bom, se mulher com mulher serve para os homens, seria até lógico esperar o contrário do sexo oposto. No entanto, isso não soa muito real. Eu dei três e prometi mais; você foi definitiva e até um pouco óbvia.
: Tá, deixe isso pra lá e me fala: qual o problema com a pornografia?
: Prefiro chamar de“ o libidinoso perverso licencioso”, pode ser? É grande, mas, à medida que essa conversa degringolar precipício à baixo, esse nome me coloca mais confortável.
: Estranho, bem estranho … eu continuo chamando de pornografia, você chama do que quiser. A impressão que eu tenho é que você tenta se esconder atrás de três termos, algo como substituir boquete por“ felação oral consentida”… se te agrada, vá em frente.
: Não sei qual o problema com“ libidinoso perverso licencioso”. Talvez a culpa da minha criação seja muito persistente; aliás, você sabe qual a origem da palavra“ pornô”? Porno é puta em grego, sabia? Então pornografia é tudo aquilo que fala sobre prostitutas.
: A gente pode começar assim, então. Pornografia é um registro, e provavelmente essa ideia de registro traz à tona coisas que, em algum grau, te incomodam?
: Bem, Bem, me chateia que, porque a pornografia, e mesmo o sexo, são desses assuntos reservados exageradamente a intimidade, há toda uma carga de abuso e exploração rodeando essas coisas.
: Isso vai ser mais uma daquelas conversas que a gente se afunda em assuntos filosóficos? Porque, sinceramente, tratar de sexo na intimidade com outra pessoa é prazeroso, e, se a moral ocidental nos levou também a isso, não quero reclamar hoje.
: Não é assim. O sexo foi de tal forma colocado na nossa privacidade, no que é privado, que ficou por demais suscetível a perversões. É claro que nem toda pornografia é perversa, há oferta variada no tema. Fui atrás da história da pornografia e o que mais surpreendeu é que o sexo, antes, era um pouco mais público, mesmo que as safadezas e os desvios tenham sempre estado presentes.
: Público como? E, aliás, já percebi que o seu problema não é bem com a pornografia, mas com o porquê de ela estar aí, do que jeito está, e por assim vai,
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