Nem me recordo da vida antes de ti, an-
terior ao nós.
Subitamente, desconheço-te. Olho-
-te como que pela primeira vez.
… e não acontece nada.
Talvez cansado de esperar inutil-
mente, levantas-te, endireitas-te. Sacodes
ligeiramente as pernas, repondo a com-
postura original das calças.
Começas a caminhar. Afastas-te.
Acompanho o teu afastamento
com o olhar. A tua figura masculina
distancia-se, passo a passo.
Continuo sentada no banco do
jardim, qual joaninha amputada das
asas. Não voarei para Lisboa. A música
dilui-se, misturada às ondas sonoras e
reais dum mundo que continua a girar,
indiferente a nós.
Sei que não voltarei a ver-te.
Regresso à leitura interrompida
pela tua chegada. Não consigo concen-
trar-me.
Ergo-me. Endireito a saia. Talvez
vá comer um gelado.
Algures, pousada na folha de
uma árvore, uma joaninha observa-
-me, testemunha silenciosa duma his-
tória que ficará por contar.
… não dou pela sua presença.
Afasto-me.
19