Madame Eva Mme Eva quinto numero | Page 21

Nem me recordo da vida antes de ti, an- terior ao nós. Subitamente, desconheço-te. Olho- -te como que pela primeira vez. … e não acontece nada. Talvez cansado de esperar inutil- mente, levantas-te, endireitas-te. Sacodes ligeiramente as pernas, repondo a com- postura original das calças. Começas a caminhar. Afastas-te. Acompanho o teu afastamento com o olhar. A tua figura masculina distancia-se, passo a passo. Continuo sentada no banco do jardim, qual joaninha amputada das asas. Não voarei para Lisboa. A música dilui-se, misturada às ondas sonoras e reais dum mundo que continua a girar, indiferente a nós. Sei que não voltarei a ver-te. Regresso à leitura interrompida pela tua chegada. Não consigo concen- trar-me. Ergo-me. Endireito a saia. Talvez vá comer um gelado. Algures, pousada na folha de uma árvore, uma joaninha observa- -me, testemunha silenciosa duma his- tória que ficará por contar. … não dou pela sua presença. Afasto-me. 19