(Há uma pausa no diálogo, Lopez volta
a comer, sem olhar para sua mulher, ela
percebe que ele segue inquieto e fixa os
olhos nele. Finalmente provocada por
mais um risinho, ela pergunta com ter-
nura na voz:)
VERA: O que foi, amor?
LOPEZ: O sal nos saquinhos, a pimenta
no moedor. Não é engraçado?
VERA: Mas por quê?
LOPEZ: Olha que estranho, alguém
achou por bem passar uma lei proibindo
sal nos saleiros, obrigando todo restau-
rante a usar estas desgraças destes saqui-
nhos; mas se esqueceram da pimenta.
Quer dizer, das três, uma: ou a pimenta
no moedor não é tão perigosa quanto o
sal no saleiro, ou o lobby dos fabricantes
de pimenta em saquinho não é tão bom
quanto o dos produtores de sal em saqui-
nho, ou os produtores de pimenta não se
entendem com os produtores de saqui-
nhos para condimentos, o que...
VERA: E qual é a diferença de ser sal da
terra no saleiro e ser sal da terra no sa-
quinho?
LOPEZ: Pois é! Não sei se a diferença é
tão grande assim, mas pensa nisso como
uma evolução: na antiguidade, a comida
já vinha salgada, não existia a opção de
colocar mais sal, pelo contrário, muito
do processo de cozinhar era dessalgar
a carne. Mas depois, com novas técni-
cas de conservação dos alimentos, o sal
como condimento começou a fazer parte
das refeições. Veio o tempo em que cada
um que se sentasse à mesa tinha seu pi-
res individual de sal, com uma colherzi-
nha para se servir. Depois passamos aos
saleiros coletivos. E agora, ao saquinho...
VERA: Ah, Lopez, você e suas ideias!
LOPEZ: Viu. Por isso que eu não quis di-
zer nada.
VERA: Ma