Madame Eva Mme Eva quinto numero | Page 14

(Há uma pausa no diálogo, Lopez volta a comer, sem olhar para sua mulher, ela percebe que ele segue inquieto e fixa os olhos nele. Finalmente provocada por mais um risinho, ela pergunta com ter- nura na voz:) VERA: O que foi, amor? LOPEZ: O sal nos saquinhos, a pimenta no moedor. Não é engraçado? VERA: Mas por quê? LOPEZ: Olha que estranho, alguém achou por bem passar uma lei proibindo sal nos saleiros, obrigando todo restau- rante a usar estas desgraças destes saqui- nhos; mas se esqueceram da pimenta. Quer dizer, das três, uma: ou a pimenta no moedor não é tão perigosa quanto o sal no saleiro, ou o lobby dos fabricantes de pimenta em saquinho não é tão bom quanto o dos produtores de sal em saqui- nho, ou os produtores de pimenta não se entendem com os produtores de saqui- nhos para condimentos, o que... VERA: E qual é a diferença de ser sal da terra no saleiro e ser sal da terra no sa- quinho? LOPEZ: Pois é! Não sei se a diferença é tão grande assim, mas pensa nisso como uma evolução: na antiguidade, a comida já vinha salgada, não existia a opção de colocar mais sal, pelo contrário, muito do processo de cozinhar era dessalgar a carne. Mas depois, com novas técni- cas de conservação dos alimentos, o sal como condimento começou a fazer parte das refeições. Veio o tempo em que cada um que se sentasse à mesa tinha seu pi- res individual de sal, com uma colherzi- nha para se servir. Depois passamos aos saleiros coletivos. E agora, ao saquinho... VERA: Ah, Lopez, você e suas ideias! LOPEZ: Viu. Por isso que eu não quis di- zer nada. VERA: Ma