SOBRE MADAME
M
adame Eva é o símbolo explícito da concretização de um ideal. Um sonho
antigo, repetido, reformulado, reerguido: o sempre redundante sonho de
criar e recriar.
Eva é a materialização de um fenômeno metafísico, que, aos poucos, se afasta
das sombras da caverna e se dirige ao caminho da luz, onde são reveladas suas verda-
deiras intenções. Sim, é desse soerguimento do corpo, pungente e emancipado, que
surge o quarto número de Madame Eva, consolidado pela contradição filosófica que
a torna real ao perpetuar seu ideal.
As páginas de Eva são outra vez tingidas com as palavras de seus autores e
com os traços de seus artistas, fazendo com que Madame se multiplique como um
objeto real, com dimensões espaciais, temporais e materiais. E como qualquer frag-
mento de sonho que se faz realidade, Madame Eva é confrontada com quatro opções.
No quadrante espacial, Eva se depara com a possibilidade quádrupla dos pon-
tos cardeais, sejam eles norte, sul, leste ou oeste, sejam eles pra cima, pra baixo, prum
lado ou pro outro. No plano temporal há sempre o fantasma de Perséfone a ditar a
estação do ano e o florescimento pontual, indagando se há outono, inverno, primave-
ra ou verão para o presente de Madame. E, na corporificação da esfera material, os
quatro elementos se apresentam como limites à existência de nossa revista: será ela
água, fogo, ar ou terra?
Talvez seja impróprio responder. Afinal, toda imagem metafórica se enri-
quece com as sombras de suas possibilidades. Mas se do Jardim do Éden saíram
os quatro rios – Fison; Geon; Tigre e Eufrates –, para irrigar e erguer as civilizações
milenares da Mesopotâmia, assim, também Madame Eva apresenta seus quatro nú-
meros com a força avassaladora do movimento constante que é a criação literária.
Portanto, com a convicção renovada de que nossa revista se petrifica de vez,
como um braço real da literatura de seu tempo, entregamo-la aos tempos vindouros
dizendo:
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