Madame , aliás , que àquela altura não tinha nome . Fora chamada de “ Quarta !”; “ A Croata ”; “ O Paquete ”; “ Luciana ”… E tantos outros nomes despropositais que em nada refletiam as intenções dos editores . Foi por um acaso , como que por um estalo , que o mais velho dos editores sugeriu “ Sr . F ”, o mais novo retrucou com “ Sra . E ” e o do meio conclamou : “ Madame Eva ”. Aos bois , o nome : era Eva e era Madame . O consenso se formou tão depressa e tão espontâneo quanto a sugestão . Cada um viu em “ Madame Eva ” o que entendia ser aquele embrião de todo o projeto .
Porém , mesmo com o nome escolhido , ainda faltava muito para tirar – ou botar – Madame no papel . Faltava padronizar as páginas , criar uma cara , uma constância , uma identidade estética àquela que já se chamava , carinhosamente , de Eva .
Folheando as páginas de uma antiga revista de vanguarda do início do século XX , as margens retilíneas vieram ao ideário do editor mais velho . Rabiscou num papel e mandou aos outros dois … Puxa daqui , ajeita dali , alonga pra cá , encurta pra acolá , meras formalidades : o traço era aquele .
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A ideia da capa , Eva segurando sua maça , veio , por obra do acaso , após a visita ao apartamento da artista plástica de Júlia Paixão , em Sergipe , onde o editor mais moço passava suas férias . Na parede , um desenho idêntico ao que aparece na capa , mas em que a mulher , nua , segura uma flor . Júlia concordou em repetir o desenho , fazendo da anônima mulher a Eva que se queria Madame , com uma maçã mordida à mão . E Júlia insistiu em borrar cada maçã , de cada capa , com uma das três cores primárias , a simbolizar o início de tudo , mas de forma a deixar o desfecho em aberto .
Com capa , margem , nome e textos , faltava uma carta credencial . Assim , a três mãos , escreveu-se o primeiro “ Sobre Madame ” e resolveu-se que cada editor assinaria , a próprio punho , seu nome aos pés daquele texto introdutório .
Mais textos vieram , mais ilustrações os acompanharam , e em pouco menos de três meses havia material e ordem suficientes para lançar o primeiro número da Madame Eva .
Sem os vultuosos patrocínios que mais tarde viriam – ou “ virão ”, melhor dizer – fez-se preciso rodar o país em busca dos melhores custos / benefícios para a impressão física . Foi pelos sólidos contatos do Seu Zé Viana , magnata aposentado do Setor de Gráficas da capital federal , que aos poucos se chegou ao trabalho caprichoso de Carlos , indicado por Lindauro , e toda sua equipe de tipógrafos .
Assim , na segunda quarta-feira de doismilidesessete , na Livraria Paraiso , da Dona Fátima Dias , na Rua dos Ipês , em Salvador , foi lançada , sem muito alarde , o primeiro número da Madame Eva , Revista de Tautologias . Tempos depois seria lançada no Rio de Janeiro e depois em Brasília , sempre em ordem histórica . Hoje esse primeiro número está aqui , acessível a todo mundo , no mundo todo .