O Embarque
“P
apai, desta vez eu vou mesmo com você para
a América?” perguntou a menina de seis anos
com olhar ingênuo, vestida com um casaco azul
que lhe batia nos joelhos e cachos de cabelo castanho
saindo por baixo da boina de tricô amarelinha que usava.
Enquanto esperavam na Estação Ferroviária de Waterloo,
ela segurava a mão de seu pai com toda força.
“Sim, minha querida”, respondeu o pai, abrindo um
sorriso. Os dois assistiram o trem rolar estação adentro,
freando barulhentamente até parar, ao mesmo tempo em
que uma nuvem de vapor envolveu a locomotiva. “Claro,
Nana”, o pai repetiu. “Você vem comigo e vai ficar ao
meu lado o tempo inteiro que estivermos em Chicago.”
“Papai, estou tão alegre”, a menina disse enquanto
saltitava pela estação tentando aproveitar cada minuto da
grande aventura em que estava para embarcar.
Eram quase 7h30 da manhã de quarta-feira, do dia
10 de abril de 1912 e John Harper, um pregador do
Evangelho, e sua filha aguardavam um trem especial
conhecido simplesmente como O Trem do Navio, que os
levaria a Southampton, de onde zarpariam para a América
do Norte.
Uma a uma, as portas dos vagões do trem se abriram
e os passageiros saíram, subindo para a plataforma da
estação. Num instante, o lugar ficou apinhado de gente
empurrando, puxando e carregando malas e baús de
todos os tipos e tamanhos. Nana e seu pai conseguiram
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