Introdução
27) insistiria que os cristãos possuíam todo o direito legal de propagar
suas ideias particulares (26:31). Mas um homem como Paulo, que ia
a todo lugar estendendo suas próprias visões dogmáticas a ponto de
enfurecer seus colegas judeus e se ver maltratado tanto pelos judeus
quanto pelos gentios – tal homem parecia para eles completamente
louco (26:24).
Por que, então, os apóstolos faziam isso? Os cristãos, pelo menos,
mal podem dizer que os apóstolos escolhidos de Cristo, batizados e
preenchidos com o Espírito Santo, e usados por Deus para fundar
a igreja, na verdade, o faziam de um modo não cristão. Então, qual
explicação sobre o comportamento deles Lucas daria a Teófilo para
justificá-los e converter Teófilo ao Cristianismo se ele já não fosse um
crente, ou, se fosse, para confirmá-lo em sua fé e inspirá-lo a seguir o
exemplo deles? A resposta a essas perguntas nada mais é do que todo
o livro de Atos. Mas citamos aqui uns poucos exemplos.
A explicação de Pedro ao Sinédrio sobre por que ele precisava
continuar pregando no nome do mesmo Jesus a quem eles executaram
mostrou que ele não estava motivado por vingança ou intolerância
religiosa; a salvação de todos os homens, em toda parte, estava em
jogo. Jesus era o Salvador universal de Deus para toda a humanidade
(4:12). Pelo bem da salvação do povo, ele precisava continuar
proclamando Jesus, não importava a quem isso embaraçasse.
Pedro e Tiago tiveram o cuidado de explicar a seus irmãos crentes
por que precisavam enviar cartas para as igrejas cristãs denunciando
como falsos os pontos de vista daqueles "fiéis" (15:5) que ensinavam
que o rito da circuncisão e a observância da lei eram necessários à
salvação. As cartas não foram enviadas para garantir uma vitória
tacanha para uma seita da Cristandade sobre a outra no que diz
respeito a algum menor ponto teológico. Mais uma vez, nada menos
do que a salvação do povo estava em jogo. Ensinar que a salvação é
dependente de algum ritual ou da observância da lei era o mesmo que
manter as pessoas em uma intolerável escravidão espiritual (15:10-
11), disse Pedro, quando elas poderiam, e deveriam, ser coladas em
liberdade. Não se deve permitir que nenhuma tradição religiosa, não
importa o quão sagrada, mantenha as pessoas em servidão. Fazer isso
seria tentar o próprio Deus (15:10).
Os filósofos, acertadamente, tratam seus próprios sistemas
epistemológicos, físicos, morais e políticos com a devida desconfiança.
O melhor deles é, afinal, apenas um sistema lógico imperfeito, baseado
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