Introdução
surgimento do Cristianismo, apenas para nos prevenirmos de cair
em uma forma espetacular de auto-decepção, trazida pela simples
ignorância, ou pelo esquecimento, dos fatos. A narrativa de Lucas,
lida inteligente e atentamente, nos mostrará ao menos isto, se nada
mais; nosso mundo moderno, com todo seu progresso científico e
tecnológico, não é, em seus princípios básicos, de qualquer modo
diferente do mundo antigo no qual o Cristianismo nasceu. Imaginar
o contrário é uma falácia essencial. De fato, nosso mundo ocidental
pós-cristão, longe de ser diferente do mundo do primeiro século, se
torna cada dia mais semelhante a esse.
"Nosso mundo científico moderno não pode acreditar na
possibilidade de cadáveres humanos se ressuscitando do túmulo",
diz alguém, como se nisso o mundo moderno fosse de algum modo
diferente do antigo.
Mas o caso é que a maioria das pessoas no mundo antigo não
acreditou nessa possibilidade também. Os epicuristas, aos quais
Paulo se dirigiu em Atenas (17:18), acreditavam que o mundo era
feito de átomos e defendiam uma teoria sobre a evolução. Eles
acreditavam na existência de deuses; mas, como os teólogos que, há
poucos anos, foram autores do livro The Myth of God Incarnate, 1 eles
defendiam (por razões diferentes) que os deuses nunca intervieram
e nunca interviriam em nosso mundo. Sua teoria científica ensinava
que a alma humana, assim como o corpo humano, são compostos de
átomos materiais. Na morte, os átomos tanto da alma como do corpo
se desfazem. A alma se desintegra de uma vez; o corpo, mais tarde.
Nada sobrevive, exceto átomos individuais. Por razões científicas,
portanto, eles rejeitavam a possibilidade de ressurreição. Todavia
Paulo, naturalmente, pregava-lhes a ressurreição de Cristo (17:31).
A maioria dos gregos comuns acreditava na sobrevivência da
alma após a morte. Platão, se não Homero, lhes havia ensinado isso
(se é que isso precisava ser ensinado). Mas nenhum deles acreditava
na ressurreição do corpo. Seu grande poeta clássico, Ésquilo, havia
declarado que não existe tal coisa. Quando, então, Paulo pregou a
ressurreição corporal de Cristo aos gregos em Atenas, alguns deles
riram às gargalhadas, sem muita cortesia (17:30-32).
Porém, não eram apenas os pagãos que não podiam, não iriam, ou
não queriam acreditar na possibilidade da ressurreição física. Lucas
nos diz que a primeira oposição em conjunto ao evangelho cristão veio
de dentro da religião judaica, veio, de fato, dos clérigos mais altos do
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