Livros Permanecendo fiel à fé | Page 11

Introdução surgimento do Cristianismo, apenas para nos prevenirmos de cair em uma forma espetacular de auto-decepção, trazida pela simples ignorância, ou pelo esquecimento, dos fatos. A narrativa de Lucas, lida inteligente e atentamente, nos mostrará ao menos isto, se nada mais; nosso mundo moderno, com todo seu progresso científico e tecnológico, não é, em seus princípios básicos, de qualquer modo diferente do mundo antigo no qual o Cristianismo nasceu. Imaginar o contrário é uma falácia essencial. De fato, nosso mundo ocidental pós-cristão, longe de ser diferente do mundo do primeiro século, se torna cada dia mais semelhante a esse. "Nosso mundo científico moderno não pode acreditar na possibilidade de cadáveres humanos se ressuscitando do túmulo", diz alguém, como se nisso o mundo moderno fosse de algum modo diferente do antigo. Mas o caso é que a maioria das pessoas no mundo antigo não acreditou nessa possibilidade também. Os epicuristas, aos quais Paulo se dirigiu em Atenas (17:18), acreditavam que o mundo era feito de átomos e defendiam uma teoria sobre a evolução. Eles acreditavam na existência de deuses; mas, como os teólogos que, há poucos anos, foram autores do livro The Myth of God Incarnate, 1 eles defendiam (por razões diferentes) que os deuses nunca intervieram e nunca interviriam em nosso mundo. Sua teoria científica ensinava que a alma humana, assim como o corpo humano, são compostos de átomos materiais. Na morte, os átomos tanto da alma como do corpo se desfazem. A alma se desintegra de uma vez; o corpo, mais tarde. Nada sobrevive, exceto átomos individuais. Por razões científicas, portanto, eles rejeitavam a possibilidade de ressurreição. Todavia Paulo, naturalmente, pregava-lhes a ressurreição de Cristo (17:31). A maioria dos gregos comuns acreditava na sobrevivência da alma após a morte. Platão, se não Homero, lhes havia ensinado isso (se é que isso precisava ser ensinado). Mas nenhum deles acreditava na ressurreição do corpo. Seu grande poeta clássico, Ésquilo, havia declarado que não existe tal coisa. Quando, então, Paulo pregou a ressurreição corporal de Cristo aos gregos em Atenas, alguns deles riram às gargalhadas, sem muita cortesia (17:30-32). Porém, não eram apenas os pagãos que não podiam, não iriam, ou não queriam acreditar na possibilidade da ressurreição física. Lucas nos diz que a primeira oposição em conjunto ao evangelho cristão veio de dentro da religião judaica, veio, de fato, dos clérigos mais altos do 11