NA PORTA DA ESCOLA
Este era um grupo, de fato, bastante variado. Muitos deles eram, assim
como Pedro, pescadores de ofício: trabalhadores durões, corajosos e
práticos, gente que sabia bem da dificuldade de ganhar o pão de cada
dia e sustentar uma família. O próprio Pedro era um homem amável
e irrequieto, sempre com um comentário ou resposta prontos na
ponta da língua. Tinha tendência de liderar o grupo e falar por eles,
mas era impulsivo: tendia a falar e agir primeiro e pensar depois. Em
contraste, Mateus fazia o tipo oposto: frio e calculista. Antes de atender
à convocação de Cristo, ele já havia feito fortuna como cobrador de
impostos, trabalhando para os odiados romanos. Quando ele se
converteu, abdicou desta profissão socialmente odiada, mas aproveitou-
se da habilidade de manter registros bem detalhados e organizados,
que mais tarde usaria para catalogar a vida de Cristo, no que se tornaria
o Evangelho de Mateus.
Já João e Tiago eram ambiciosos, do tipo determinado. Eles não se
importavam em ter de trabalhar duro e sacrificar-se, desde que isso
garantisse os cargos mais altos no reino de Cristo (Marcos 10:35-45). A
ambição deles não era cem por cento saudável, e o senso de justiça que
possuíam muitas vezes se misturava com um sentimento mesquinho
de vingança (Lucas 9:51-56). Filipe era, pelo que consta nos registros,
um sujeito acessível (João 12:21). Bem diferente era Tomé, um homem
teimoso que não relutava em expressar suas dúvidas e seu ceticismo
de forma bastante aberta. Simão, o Zelote, antes de converter-se, havia
sido um ativista fanático politicamente alinhado à direita, exatamente
o oposto de Mateus, o Colaborador. Os outros eram pessoas quietas:
nunca os ouvimos dizer coisa alguma, o que não significa que não
fossem também estudantes igualmente sérios. Por último, havia
também uma figura sombria. Ele era o responsável por carregar a bolsa
comum a todos, mas não era um discípulo de verdade. No final, seria
exposto como traidor.
Quanto a nós, seja lá quais forem nossas personalidades, qualidades
ou defeitos, e independentemente do nosso passado político, social ou
cultural, podemos confortavelmente sentar-nos ao lado desses homens,
estudantes, como nós, da escola de Cristo.
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