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Em Defesa de Deus
atribuiu a essa conferência tal importância, que, em sua edição
especial pelo quinquagésimo aniversário, foi incluído um relatório
da conferência em um artigo intitulado: “Em lugar de Deus”. 47 Esse
título revela que o objetivo dos novos ateus não é simplesmente
concluir o processo de secularização por banir Deus do universo,
mas, sim, colocar algo no lugar de Deus. E não é simplesmente a
sociedade que deveria substituir Deus por outra coisa; a ciência
deveria fazer isso. Aparentemente, nenhuma área do pensamento
humano ou atividade que não seja a ciência está qualificada para
contribuir com algo útil. A ciência é rainha absoluta. É evidente que
a ciência é um conjunto de disciplinas praticadas por seres humanos;
de modo que o objetivo principal parece ser fazer desses cientistas
o árbitro final, não somente do que os outros seres humanos devem
acreditar, mas também do que deve ser adorado por eles — lembre-
se de que é Deus quem eles desejam substituir. Detectamos mais
tons de totalitarismo?
As duas primeiras perguntas da agenda da conferência em La
Jolla mostram que propagar o ateísmo é parte de uma meta mais
ampla, a entronização da ciência como suprema. Esse objetivo traz
semelhanças poderosas com a cruzada de T. H. Huxley nos anos
seguintes à publicação de Darwin de A Origem das Espécies. Huxley
viu, na teoria de Darwin, sua arma principal para afrouxar domínio
exercido pelo cristianismo e alcançar a secularização da sociedade
pela dominação da ciência. Em 1874, esse tema ficou em evidência
em uma famosa reunião da Associação Britânica, ocorrida em Belfast,
na qual Huxley, J. D. Hooker (botânico) e John Tyndall (Presidente da
Associação Britânica para a Ciência — o qual trabalhava com gases
atmosféricos), foram os oradores principais. Tyndall disse: “Todas
as teorias religiosas devem submeter-se ao controle da ciência e
renunciar a qualquer ideia de controlá-la”. 48
A DIMENSÃO MORAL
Portanto, os novos ateus devem, inevitavelmente, enfrentar a
questão da moralidade e da ética. Por essa razão, a terceira questão
(Podemos ser bons sem Deus?) aparece na agenda da conferência,
mesmo que ela possa parecer incongruente à primeira vista. Os
organizadores da conferência sentiram claramente que tinham de
lidar com o fato incontestável de que, durante séculos, a fonte da
moralidade, pelo menos no Ocidente, tem sido a tradição judaico-
cristã. Os novos ateus desejam abolir a religião, então eles precisam