Levante: A vida pós-cárcere de mulheres no Paraná Levante_Livro | Page 47
como prioritários para o suporte a essas pessoas. O Escritório, que
integra o Departamento Penitenciário do Paraná e é um dos eixos do
programa Cidadania nos Presídios, do Conselho Nacional de Justiça,
mantém convênios com cerca de dez empresas, em que busca inserir
os assistidos. Iniciativa nesses mesmos moldes no Brasil, só o do estado
do Espírito Santo, inaugurado de forma pioneira em 2016.
Rita de Cássia Naumann atua no Escritório Social como psicóloga.
No currículo, ela tem 20 anos de atuação como diretora de
penitenciárias femininas e masculinas. É das psicólogas e assistentes
sociais do órgão o papel de traçar o Plano Individual de Atendimento
e planejar os encaminhamentos. Segundo Rita, o maior desafio é
sair da rotina controlada quase que totalmente pela administração
da unidade prisional para o dia a dia na ausência dessas restrições:
— O controle interno desse indivíduo que passou às vezes
anos na penitenciária não é muito fácil, por ter uma história não só
de vulnerabilidade, mas de dependência química, conflitos familiares,
vínculos que se perderam. Então você tem que tentar apoiá-lo e
perceber de verdade qual é vulnerabilidade naquele momento.
Em sua avaliação, é mais do que previsível que, na transição
para a liberdade, quem dela esteve privado por anos acredite que não
está preparado para retomar o controle sobre a própria vida, sentimento
compartilhado por Renata. Quando perguntei se ela se sentia
pronta pra sair, quando do momento de suas duas solturas, chegou a
conclusão, depois de alguns segundos de reflexão, de que talvez seja
impossível estar preparada.
— Quando fui pro semiaberto da primeira vez, fui falar para
a guarda que queria voltar, me sentia um peixe fora d’água. Quando
você sai, olha pra fora e vê carros, gente, ruas, é um baque.
Boa parte disso, explica Rita, se deve a faixa etária da maioria
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