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constitucional da Assembleia Nacional da Venezuela e de Juan Guaidó.

O lado humanitário

Rogério Cortez (nome fictício), jornalista situado em Caracas contou que as manifestações já ocorrem há algum tempo, mas só no dia 23/01 aumentaram de tamanho e atraíram milhares de pessoas. Enquanto se comunicava com o Ler Agora, pelo Twitter, as 23h do horário de Salvador, contou que, naquela noite não voltaria para casa, precisaria dormir no escritório da empresa, pois sair às ruas está muito perigoso “há sons de tiros e explosões”, completou.

Seu salário, atualmente gira em torno de 6 dólares mensais, mas por conta da hiperinflação deveria ganhar ao menos 450 dólares. Cortez contou que seus filhos estão no exterior e só não passa fome pois enviam dinheiro mensalmente, “mal consigo comprar carne, arroz e itens básicos, esse dinheiro precisa durar um mês inteiro, isso é um pesadelo”, relatou. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), a inflação em 2019 será de 10.000.000%.

Quanto às manifestações, não há dados oficiais, mas segundo os relatos, nos dia 23/01, dezessete pessoas foram mortas em confrontos com a Guarda e Polícia Nacional Bolivariana, os feridos passam de 200, “Os protestos ocorrem pois os cidadãos não querem Maduro no poder, a miséria, mortes, fome e a delinquência transformaram um país rico numa nação de indigentes”. “Por isso muitos vão embora para as nações vizinhas, incluindo o Brasil”, completou.

O Ler Agora apurou que, em sua conta no Twitter, o ministro de defesa venezuelano negou que há confrontos letais contra os manifestantes, no entanto, vídeos compartilhados nas redes sociais e o relato do jornalista Cortez mostram que há pessoas mortas em diversas cidades do país.

Os negócios no centro de Caracas viraram alvos de saqueadores, enquanto pessoas leais ao governo disparam livremente, “muitos cidadãos que estão indo do trabalho para casa ficam feridos, estamos vivendo num caos”, disse.

Segundo Cortez, Nicolás Maduro tem as forças armadas ao seu lado e não sairá do poder pacificamente, “o povo está brigando desarmado, é por isso que os mortos são só do lado da oposição”. Questionado sobre a cobertura da imprensa internacional, Cortez afirmou que a GN confiscou as câmeras e celulares dos fotógrafos que chegaram ao país.

Já Gutierrez Fernandes (nome fictício), atualmente mora na Espanha, contou que fugiu da Venezuela com o apoio da família, e para que não passem fome, envia dinheiro todos os meses, “minha família não pôde vir comigo, pois o custo é muito alto, mas me comunico com eles diariamente”. Além da fome também há venezuelanos que morrem por falta de medicamentos.

O vice-presidente do Brasil, Mourão, afirmou no dia (23) que o país não participará de uma possível intervenção militar na Venezuela pois não faz parte da política externa brasileira. Segundo a Agência Brasil, ele disse “O máximo que podemos fazer é protestar, né?”.

Segundo a ONU, 2,3 milhões de venezuelanos deixaram o país nos últimos 4 anos, número maior que os 1,8 milhão de imigrantes que chegaram a Europa fugindo das guerras civis no oriente médio, de países como Síria e Jordânia.

Juan Guaidó pediu no dia, 24/01 ajuda humanitária aos Estados Unidos e demais países da América. Mike Pompeo, Secretário de Estado dos EUA, concordou em enviar 20 milhões de dólares a Venezuela.

O lado político

Atualmente existem 3 motivos que podem levar a uma desestabilização na região da América do Sul. Segundo Felippe Ramos, Sociólogo e ex-funcionário do Ipea na Venezuela, o primeiro motivo se daria pela fronteira com a Colômbia, por ser uma região com alta densidade populacional, “há um conflito histórico e com a deterioração da situação venezuelana, Maduro pode culpar o governo colombiano e escalar o conflito”.

Já o segundo conflito, na fronteira com a Guiana poderia ocorrer pois, “a Venezuela reclama o território como dela desde o século 19, há o interesse pelas fontes de petróleo da região tanto por parte de Maduro quando dos Estados Unidos”, explica.

A terceira área de risco é na fronteira brasileira, em Roraima, ao sul da Venezuela, “o aumento da imigração venezuelana para o norte do Brasil desestabiliza as pequenas cidades do estado de Roraima, incluindo a capital Boa Vista. Sendo assim as três fronteiras tem risco de conflitos diplomáticos, e por conta dos refugiados”, completa.

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