Mesmo assim, eu ainda estava muito
receosa. Mas minha mãe estava tão
animada com essa oportunidade, por ser
formada em matemática, que brincou que
então ela mesma iria nas aulas para ver do
que se tratava! No final, por insistência dela,
eu resolvi dar uma chance e… passei os
quase seis anos seguintes estudando para
as olimpíadas científicas e foi uma das
melhores experiências que eu já tive até
então.
3. Existem mais mulheres que te inspiram?
Quais?
Na minha família, eu me inspiro muito na
minha prima mais velha Mariana. Vinte anos
antes de eu me mudar para a Califórnia
para fazer faculdade, ela se mudou para a
Europa para estudar também. Sempre ouvia
das dificuldades que ela passou
principalmente por ser estrangeira e estar
longe da família, e agora eu entendo um
pouco dessas dificuldades - e passei a
admirá-la ainda mais. Além disso tudo ela
fala cinco idiomas - eu ainda tento entender
como ela consegue assimilar toda essa
informação na mente dela! Hoje a Mari tem
uma família linda e uma filha incrível. Espero
um dia ser uma mãe como ela.Outra mulher
que me inspira é a Tábata Amaral pelo o
tanto que ela já está fazendo pelo país.
Sendo uma mulher na política, na ciência, e
lutando pela educação. Vejo o quanto de
força ela tem para aguentar as críticas e se
manter firme aos seus ideais.
4. Como você se vê perante a sociedade?
Quais são os seus sonhos?
Principalmente depois de começar a
faculdade, eu entendi que ainda estou me
encontrando e entendendo o meu lugar no
mundo - e tento me permitir a passar por
esse processo. O que ainda não tenho
certeza: minha carreira talvez seja na área
da Computação. O que exactamente? Ainda
não sei. Talvez eu vá para a área mais
académica (pesquisa), ou para a indústria,
mas sinceramente eu não descobri o meu
real interesse - talvez eu comece a ter uma
noção no meio desse ano durante o meu
primeiro estágio.O que eu tenho certeza: eu
quero trabalhar com pessoas, e construir
uma real conexão com elas, saber nome e
história. Acho que com todas as
oportunidades que estou tendo, como
estudar em outro país em uma universidade
incrível como Stanford, reconhecendo os
privilégios que eu tive - ser uma menina
branca, ter o suporte da família, lar estável, e
escola -, eu preciso usar o meu tempo e
conhecimento para algo que beneficie o
colectivo.
E o meu objectivo não é que meu nome
seja reconhecido, mas que eu mesma
reconheça dentro de mim que estou
fazendo um impacto positivo na vida de
outras pessoas.
5. Alguma vez desacreditou em si
mesma? E se sim o que fez para
superar isso?
Várias vezes ainda me pego
desacreditando em mim mesma, grande
parte resultado da “síndrome da
impostora” - estar rodeada de pessoas
muito incríveis e competentes desperta
bastante isso. Acho que o que me
ajudou - e me ajuda - a sair dessas
situações é ter a minha rede de apoio,
em especial a minha mãe, que sempre
está me trazendo um choque de
realidade e dizendo que eu sou capaz,
sim. Além disso, principalmente depois
que eu me entendi feminista, eu me senti
mais forte e parei de me comparar
tanto com as outras pessoas. Agora eu
penso muito mais em “inspiração” do
que em “comparação”: eu tento
entender que tenho o meu próprio
tempo e posso adaptar as vivências das
pessoas que admiro à minha própria,
mas mantendo a minha essência e me
permitindo errar.
Foto: Débora Nisenbaum
6. Qual a sua visão sobre a
desigualdade que vivemos hoje no
mundo? E no Brasil?
Acho que por um lado tem muita
omissão na sociedade: muita gente
terceiriza a responsabilidade de corrigir
a desigualdade para o Estado, para
movimentos sociais, ou para as próprias
pessoas que são afetadas pela
desigualdade. Ou o clássico: “mas eu
não faço, não é culpa minha”. Tem
muita coisa que cada um pode fazer
como indivíduo para lutar contra a
desigualdade: se posicionar em rodas de
amigos ou no almoço da família,
sensibilizar e orientar as crianças desde
pequenas, apoiar e divulgar as causas a
favor da igualdade, votar…Por outro
lado, também tem a falta de empatia.
Muita gente ainda vive em uma bolha e
acha que tudo está maravilhoso. Ou até
percebe que as coisas não estão tão
legais para muitos, mas ignora passado
histórico e não se incomoda muito com
a situação alheia. Para essas pessoas eu
torço muito que elas sejam em algum
momento sensibilizadas e comecem a se
colocar no lugar do outro.
A gente chegaria mais longe se todo
mundo tivesse as mesmas oportunidades:
ouvindo mais gente, as soluções para
grandes problemas viriam bem mais
rápido.
7. Qual sua mensagem para as garotas e
meninas mulheres como você? Por que
elas podem acreditar nos sonhos delas
também?
Primeiro, nunca parar de sonhar. Ficar
próxima das pessoas que te motivam a
investir nos seus objetivos. Também nada
de duvidar de si mesma - acho que isso eu
preciso me lembrar mais também! - ou ter
medo de errar: às vezes um “fracasso”
pode te levar mais longe do que um
aparente “sucesso”. Saber onde você quer
chegar é importante e ter consciência de
como se preparar para isso é fundamental.
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LILLIES AND
DASIES