Junho/2020 | Page 10

Mesmo assim, eu ainda estava muito receosa. Mas minha mãe estava tão animada com essa oportunidade, por ser formada em matemática, que brincou que então ela mesma iria nas aulas para ver do que se tratava! No final, por insistência dela, eu resolvi dar uma chance e… passei os quase seis anos seguintes estudando para as olimpíadas científicas e foi uma das melhores experiências que eu já tive até então. 3. Existem mais mulheres que te inspiram? Quais? Na minha família, eu me inspiro muito na minha prima mais velha Mariana. Vinte anos antes de eu me mudar para a Califórnia para fazer faculdade, ela se mudou para a Europa para estudar também. Sempre ouvia das dificuldades que ela passou principalmente por ser estrangeira e estar longe da família, e agora eu entendo um pouco dessas dificuldades - e passei a admirá-la ainda mais. Além disso tudo ela fala cinco idiomas - eu ainda tento entender como ela consegue assimilar toda essa informação na mente dela! Hoje a Mari tem uma família linda e uma filha incrível. Espero um dia ser uma mãe como ela.Outra mulher que me inspira é a Tábata Amaral pelo o tanto que ela já está fazendo pelo país. Sendo uma mulher na política, na ciência, e lutando pela educação. Vejo o quanto de força ela tem para aguentar as críticas e se manter firme aos seus ideais. 4. Como você se vê perante a sociedade? Quais são os seus sonhos? Principalmente depois de começar a faculdade, eu entendi que ainda estou me encontrando e entendendo o meu lugar no mundo - e tento me permitir a passar por esse processo. O que ainda não tenho certeza: minha carreira talvez seja na área da Computação. O que exactamente? Ainda não sei. Talvez eu vá para a área mais académica (pesquisa), ou para a indústria, mas sinceramente eu não descobri o meu real interesse - talvez eu comece a ter uma noção no meio desse ano durante o meu primeiro estágio.O que eu tenho certeza: eu quero trabalhar com pessoas, e construir uma real conexão com elas, saber nome e história. Acho que com todas as oportunidades que estou tendo, como estudar em outro país em uma universidade incrível como Stanford, reconhecendo os privilégios que eu tive - ser uma menina branca, ter o suporte da família, lar estável, e escola -, eu preciso usar o meu tempo e conhecimento para algo que beneficie o colectivo. E o meu objectivo não é que meu nome seja reconhecido, mas que eu mesma reconheça dentro de mim que estou fazendo um impacto positivo na vida de outras pessoas. 5. Alguma vez desacreditou em si mesma? E se sim o que fez para superar isso? Várias vezes ainda me pego desacreditando em mim mesma, grande parte resultado da “síndrome da impostora” - estar rodeada de pessoas muito incríveis e competentes desperta bastante isso. Acho que o que me ajudou - e me ajuda - a sair dessas situações é ter a minha rede de apoio, em especial a minha mãe, que sempre está me trazendo um choque de realidade e dizendo que eu sou capaz, sim. Além disso, principalmente depois que eu me entendi feminista, eu me senti mais forte e parei de me comparar tanto com as outras pessoas. Agora eu penso muito mais em “inspiração” do que em “comparação”: eu tento entender que tenho o meu próprio tempo e posso adaptar as vivências das pessoas que admiro à minha própria, mas mantendo a minha essência e me permitindo errar. Foto: Débora Nisenbaum 6. Qual a sua visão sobre a desigualdade que vivemos hoje no mundo? E no Brasil? Acho que por um lado tem muita omissão na sociedade: muita gente terceiriza a responsabilidade de corrigir a desigualdade para o Estado, para movimentos sociais, ou para as próprias pessoas que são afetadas pela desigualdade. Ou o clássico: “mas eu não faço, não é culpa minha”. Tem muita coisa que cada um pode fazer como indivíduo para lutar contra a desigualdade: se posicionar em rodas de amigos ou no almoço da família, sensibilizar e orientar as crianças desde pequenas, apoiar e divulgar as causas a favor da igualdade, votar…Por outro lado, também tem a falta de empatia. Muita gente ainda vive em uma bolha e acha que tudo está maravilhoso. Ou até percebe que as coisas não estão tão legais para muitos, mas ignora passado histórico e não se incomoda muito com a situação alheia. Para essas pessoas eu torço muito que elas sejam em algum momento sensibilizadas e comecem a se colocar no lugar do outro. A gente chegaria mais longe se todo mundo tivesse as mesmas oportunidades: ouvindo mais gente, as soluções para grandes problemas viriam bem mais rápido. 7. Qual sua mensagem para as garotas e meninas mulheres como você? Por que elas podem acreditar nos sonhos delas também? Primeiro, nunca parar de sonhar. Ficar próxima das pessoas que te motivam a investir nos seus objetivos. Também nada de duvidar de si mesma - acho que isso eu preciso me lembrar mais também! - ou ter medo de errar: às vezes um “fracasso” pode te levar mais longe do que um aparente “sucesso”. Saber onde você quer chegar é importante e ter consciência de como se preparar para isso é fundamental. PÁGINA 10 LILLIES AND DASIES