LÍNGUAS
As primeiras memórias de um fogo-de-artifício
Por Mariana Correia, 12.º E
C
onfesso que nunca fui
muito de reviver o passado. Não
sei se é por melancolia, se por nos-
talgia, mas o futuro sempre me
pareceu muito mais brilhante,
cheio de sonhos por realizar. Ape-
sar de tudo, navego nas ruas infini-
tas da minha cabeça à procura de
algo que me tenha marcado e que
seja de alguma relevância para ser
falado, escolhendo assim a minha
memória mais inocente, pura e
transparente como o vidro...
Naquele dia, a chuva escorria
das nuvens e vinha aterrar na estra-
da em frente à minha janela. Tinha
talvez um pouco mais de três anos
e recordo os casacos e cobertores
onde me enrolava para manter o
calor. Suponho que fosse um dia
bem frio de inverno. Curiosamen-
te, naquele dia não estava interes-
sada no que os brinquedos me
pudessem oferecer: a chuva do
lado de fora chamava-me mais à
atenção. Uma atitude estranha, já
que não era a primeira vez que via
água a cair das nuvens. No entan-
to, a minha mente de criança quis
ceder ao instinto e decidi sentar-
me perto dessa mesma janela e
observar o que a natureza oferecia
ao mundo. Desconheço pormeno-
res, visto que para mim nada mais
me importava senão aquele "fogo-
de- artifício" no céu que fazia as
nuvens brilhar.
Para esclarecer, não eram mais
do que comuns relâmpagos acom-
panhados por trovões, mas aquela
tempestade tornou-se algo de fasci-
nante para mim... As luzes brancas
caídas dos céus batiam com força
na superfície do mar e os meus
olhos não puderam deixar de se
Silêncio
maravilhar com algo tão modesto e
imponente em simultâneo. Senti-
me pequena de mais perante a Mãe
Natureza que se apresentava diante
de mim e devo ter-me deixado
levar por esse sentimento.
Passados todos estes anos, as
sensações ainda aparecem vaga-
mente no meu cérebro e vagueiam
pelo coração que carrego no peito.
Razões lógicas? Nenhumas, no
entanto, deixam-me com estas
memórias, das quais eu absorvo
uma energia revigorante que me
ajuda a seguir em frente com este
momento presente onde habito...
Por Ana Catarina Neves, 10.º A1
Silêncio. Não o suporto. Não faz sentido. Como é que algo que não é nada pode de certa forma realçar
tudo?
O seu nome não encaixa com a sua personalidade de todo. Ele não é calmo, é barulhento. É perigoso, é
como o trovão que faz as crianças esconderem-se de medo. Ele é a razão pela qual perco o sono à noite
apenas com súbitos pensamentos, acompanhados de recordações vivas daquele que me devia ter criado,
mas, em vez disso, fugiu quando já tinha idade suficiente para sofrer. Ele é a razão da dor que sinto no
peito, que me faz apertar o punho e formular inúmeras perguntas que nunca terei a coragem de fazer. Ele
é a razão pela qual me afogo na minha própria vulnerabilidade. Mas é, também, a única pessoa que me faz
sentir eu mesma, faz-me sentir normal. É o meu melhor amigo.
Texto orientado pelo professor de Português, Luís Gonçalves.
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