Jornal ECOESTUDANTIL, n.º 30, jan. 2018 Jornal EcoEstudantilESJAC jan 2018 | Page 23

LÍNGUAS As primeiras memórias de um fogo-de-artifício Por Mariana Correia, 12.º E C onfesso que nunca fui muito de reviver o passado. Não sei se é por melancolia, se por nos- talgia, mas o futuro sempre me pareceu muito mais brilhante, cheio de sonhos por realizar. Ape- sar de tudo, navego nas ruas infini- tas da minha cabeça à procura de algo que me tenha marcado e que seja de alguma relevância para ser falado, escolhendo assim a minha memória mais inocente, pura e transparente como o vidro... Naquele dia, a chuva escorria das nuvens e vinha aterrar na estra- da em frente à minha janela. Tinha talvez um pouco mais de três anos e recordo os casacos e cobertores onde me enrolava para manter o calor. Suponho que fosse um dia bem frio de inverno. Curiosamen- te, naquele dia não estava interes- sada no que os brinquedos me pudessem oferecer: a chuva do lado de fora chamava-me mais à atenção. Uma atitude estranha, já que não era a primeira vez que via água a cair das nuvens. No entan- to, a minha mente de criança quis ceder ao instinto e decidi sentar- me perto dessa mesma janela e observar o que a natureza oferecia ao mundo. Desconheço pormeno- res, visto que para mim nada mais me importava senão aquele "fogo- de- artifício" no céu que fazia as nuvens brilhar. Para esclarecer, não eram mais do que comuns relâmpagos acom- panhados por trovões, mas aquela tempestade tornou-se algo de fasci- nante para mim... As luzes brancas caídas dos céus batiam com força na superfície do mar e os meus olhos não puderam deixar de se Silêncio maravilhar com algo tão modesto e imponente em simultâneo. Senti- me pequena de mais perante a Mãe Natureza que se apresentava diante de mim e devo ter-me deixado levar por esse sentimento. Passados todos estes anos, as sensações ainda aparecem vaga- mente no meu cérebro e vagueiam pelo coração que carrego no peito. Razões lógicas? Nenhumas, no entanto, deixam-me com estas memórias, das quais eu absorvo uma energia revigorante que me ajuda a seguir em frente com este momento presente onde habito... Por Ana Catarina Neves, 10.º A1 Silêncio. Não o suporto. Não faz sentido. Como é que algo que não é nada pode de certa forma realçar tudo? O seu nome não encaixa com a sua personalidade de todo. Ele não é calmo, é barulhento. É perigoso, é como o trovão que faz as crianças esconderem-se de medo. Ele é a razão pela qual perco o sono à noite apenas com súbitos pensamentos, acompanhados de recordações vivas daquele que me devia ter criado, mas, em vez disso, fugiu quando já tinha idade suficiente para sofrer. Ele é a razão da dor que sinto no peito, que me faz apertar o punho e formular inúmeras perguntas que nunca terei a coragem de fazer. Ele é a razão pela qual me afogo na minha própria vulnerabilidade. Mas é, também, a única pessoa que me faz sentir eu mesma, faz-me sentir normal. É o meu melhor amigo. Texto orientado pelo professor de Português, Luís Gonçalves. Página 23