Jornal do Clube de Engenharia 613 (Maio a Setembro de 2020) | Page 10

Inclusão digital

Pandemia expôs as barreiras para acesso a conexões de qualidade no país

Pesquisa TIC Domicílios 2019 e o Painel TIC COVID-19 trazem indicadores sobre uso de Internet .
Com a imposição das medidas de distanciamento social por conta da pandemia de Covid-19 , o uso de Internet disparou e se tornou indispensável para muitas pessoas e setores da economia em todo o mundo . O acesso à Internet é um dos fatores básicos da inclusão digital , mas dados recentes divulgados pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil ( CGI . br ) mostram que o país ainda enfrenta não só o desafio do acesso , mas também da qualidade da conexão . Apesar de 134 milhões ( 74 %) de brasileiros se conectarem à rede , 27 % usa conexões com franquias de dados , que tornam difícil ou impossível , por exemplo , o consumo de videoaulas ou participação em videoconferências . Diante do distanciamento social , esse tipo de comunicação cresceu a patamares históricos : 64 % dos usuários fazem uso dessas ferramentas , número que dobrou com relação , por exemplo , a 2016 .
Estes e outros dados fazem parte da TIC Domicílios 2019 , lançada no final de maio e com dados coletados entre outubro de 2019 e março de 2020 , e do Painel TIC Covid-19 , lançado em agosto com dados de junho e julho deste ano .
Acesso continua a crescer ...
Chegando à 15 ª edição , a TIC Domicílios é a mais relevante pesquisa no país sobre uso de Internet , e aponta que o Brasil continua sua curva ascendente de novas conexões à rede , capitaneadas principalmente pelos telefones celulares e conexões móveis . Pela primeira vez , mais da metade ( 53 %) da população rural está conectada , embora ainda em taxa baixa se comparada à urbana ( 77 %). O percentual total de usuários pode ser ainda maior se considerarmos também as pessoas que utilizam aplicativos , como os de mensagem instantânea , mas que não sabem que isso é um tipo de uso de Internet : o indicador de usuários da rede passa de 74 % para 79 % se incluída também essa parte da população .
Pixabay
O recorte socioeconômico , no entanto , evidencia que , apesar de praticamente universalizado na população mais rica ( 95 % das classes A e B ), o acesso da população mais pobre é muito baixo : 37 % continuam off-line . Esse cenário ajuda a entender por que tantas pessoas relataram dificuldade , ainda no início da pandemia , para se inscrever e receber o Auxílio Emergencial aprovado pelo Congresso Nacional : o requerimento e acompanhamento do benefício precisavam ser feitos pela Internet . Outros recortes sociais , como cor / etnia , escolaridade e região do país apontam que a inclusão digital é , de fato , um desafio da própria inclusão social .
Apesar de praticamente universalizada na população mais rica , a população mais pobre segue off-line .
... mas qualidade segue desigual
A inclusão digital é um conceito amplo , que entende que a possibilidade de acesso e uso crítico e consciente de TICs é um fator de inclusão social no contexto contemporâneo . E apesar de o acesso à Internet ser usado por muitos como medidor da inclusão digital , na prática existem muitas outras barreiras , como habilidades para o uso da rede e a qualidade da conexão .
Um dado importante diz respeito ao tipo de dispositivo usado para se conectar à Internet . Quanto menor a renda , maior é a chance de um brasileiro utilizar a rede apenas pelo telefone celular — um tipo de dispositivo mais barato que computadores e tablets , mas que possui limitações , principalmente se considerarmos que grande parte do mercado nacional é formada por celulares com configurações básicas e pouca memória interna . Enquanto 86 % da população com renda familiar acima de 10 salários mínimos pode escolher entre usar celulares ou computadores , 79 % daqueles com renda de até 1 salário mínimo acessa a rede apenas pelo celular . As implicações podem ser relevantes : assistir a videoaulas ou criar um currículo , por exemplo , se tornam tarefas mais difíceis se forem feitas nas telas pequenas .
Quando partimos para o tipo de conexão , mais diferenças : quanto maior a renda , maior a probabilidade de uma pessoa ter uma conexão domiciliar fixa à rede , geralmente sem franquia de dados e , portanto , mais cara .
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