Jornal do Clube de Engenharia 611 (Fevereiro de 2020) | Page 8
DTEs
Desafios e alternativas para a
crise hídrica no Estado do Rio
A crise hídrica no Estado,
desde o início de janeiro, tem
ramificações profundas na
história do planejamento urbano
das cidades. A fim de discutir
as implicações na relação entre
crise hídrica, sua relação com
o saneamento básico e políticas
públicas, o Clube de Engenharia
organizou, no dia 11 de fevereiro,
o evento “Planejamento Urbano e
Segurança Hídrica”. Participaram
do debate Pedro Celestino,
presidente do Clube de Engenharia;
Alexandre Pessoa, engenheiro
civil e sanitarista da Fundação
Oswaldo Cruz (Fiocruz); José
Alexandre Maximino Mota,
promotor de Justiça e assessor do
Grupo de Atuação Especializada
em Ambiente (GAEMA) do
Ministério Público do Estado do
Rio de Janeiro (MPRJ); Vladimir
Loureiro, Coordenador da Câmara
Técnica do Comitê de Bacia do
Guandu; e Jorge Rios, conselheiro
do Clube de Engenharia. A
moderação do evento coube à
conselheira Uiara Martins de
Carvalho.
“Nós estamos em meio a uma crise
que se arrasta há mais de 40 dias
envolvendo uma das principais
empresas de saneamento do país.
E eu digo sem medo de errar que é
uma empresa pioneira no tratamento
de água de grandes aglomerações”,
disse Pedro Celestino, na abertura do
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evento. Ele lembrou que a CEDAE
surgiu, na década de 1960, na esteira
das primeiras propostas de se tratar
do saneamento básico enquanto sis-
têmico e essencial ao desenvolvimen-
to das grandes cidades brasileiras. E
cresceu como uma empresa pública
técnica e de qualidade, que conseguiu
solucionar um histórico problema do
Rio de Janeiro: a falta d’água para
a população. A pergunta é: como
essa empresa, que era uma empresa
modelo, chega à situação de hoje em
que não é capaz de fornecer a água
cristalina, sem cheiro e sem gosto? “É
fundamental termos planejamento,
instituições e empresas de Estado
que sejam capazes de gerir serviços
que são essenciais à vida, como são
as empresas de saneamento”, afirmou
Celestino. O presidente do Clube de
Engenharia também lembrou que a
crise atual não pode ser desconec-
tada do processo de privatização da
CEDAE, que começou em 2017 e
deve ser finalizado ainda este ano.
“Degrada-se a qualidade da gestão
propositalmente para vender a ideia
de que privatizar algo essencial à vida
é a melhor solução”, apontou ele.
O tema, de importância vital, pre-
cisa ser tratado no campo da saúde
pública. É o que defende Alexandre
Pessoa, da Fiocruz. Em 2019, a insti-
tuição criou o grupo Água e Sane-
amento, pela compreensão de que
o país passa por uma crise hídrica,
que se expressa de várias formas em
todo o país. Trata-se de uma crise
ambiental associada à vulnerabilidade
das políticas públicas. “Não dá para
pensar a crise hídrica somente olhan-
do para o espelho d’água. Temos que
entender a bacia hidrográfica. O Rio
de Janeiro não sofre só a crise hídrica
do Guandu: essa crise se expressa
também nas águas turbulentas, que
são as águas de chuva”, disse. “A
Luiz Winter, Cosme Aquino
É urgente que o Brasil tenha o saneamento básico como uma das pautas centrais das políticas públicas.
Cedae é, para nós, patrimônio dos
cariocas. E está sendo vulnerabiliza-
da”, criticou Pessoa, que deu ênfase
à necessidade da sociedade brasileira
e, em especial, os gestores públicos
se conscientizarem da urgência de o
país ter o saneamento básico como
pauta central das políticas públicas.
O conselheiro Jorge Rios, e chefe da
Divisão Técnica de Recursos Hí-
dricos e Saneamento do Clube de
Engenharia, explicou que decisões
equivocadas ao longo da história de
cidades como o Rio de Janeiro, Belo
Horizonte e São Paulo refletem-se,
hoje, nos problemas relacionados à
gestão hídrica. O aterramento ou ca-
nalização de rios e a impermeabiliza-
ção do solo com o uso de asfalto, por
exemplo, contribuem para que chuvas
causem grandes estragos e prejuízos.
“O planejamento urbano na cidade
de São Paulo falhou e está falhando
no Guandu”, lamentou, lembrando
que o Plano Diretor de Águas, dos
anos 1980, já previa uma série de
medidas que não foram tomadas e
que voltam a ser propostas diante da
crise no Rio de Janeiro.
O evento foi promovido pela Pre-
sidência do Clube de Engenharia,
pela Diretoria de Atividades Técnicas
(DAT) e pela Divisão Técnica de
Urbanismo e Planejamento Regio-
nal (DUR), com apoio das Divisões
Técnicas de Exercício Profissional
(DEP), Engenharia do Ambiente
(DEA), Recursos Hídricos e Sane-
amento (DRHS), e da Associação
Profissional de Geógrafos no Estado
do Rio de Janeiro (Aprogeo - RJ).
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desafios-crise-hidrica