Jornal do Clube de Engenharia 611 (Fevereiro de 2020) | Page 10

DIRETRIZES Novas Diretrizes Curriculares e o futuro da Engenharia Brasileira Cláudia Morgado Diretora da Escola Politécnica da UFRJ Presidente do Fórum Nacional de Dirigentes de Instituições de Ensino de Engenharia (Fordirenge). As infraestruturas logística e tecnológica do Brasil foram construídas, desde os tempos do Império, pela prestigiada Engenharia Brasileira, cantada em verso e prosa pelo mundo afora, e pela história dos grandes desafios tecnológicos de um país continental. As nossas soluções de engenharia sempre foram projetadas e executadas por empresas brasileiras, conduzidas, na gestão e na técnica, por engenheiros brasileiros formados nas suas próprias escolas de engenharia. Essa é uma particularidade e um privilégio que poucos países em desenvolvimento puderam gozar desde sua independência. Essa performance de sucesso em muito se deve à garantia de um pa- drão de qualidade, mínimo e obriga- tório, na formação de engenharia no país, através das Diretrizes Curricu- lares Nacionais, do registro compul- sório dos currículos, da fiscalização do exercício da profissão (prevista por lei), e pela governança dos conselhos regionais de Engenharia – Siste- ma CREA/CONFEA. Esse é um modelo único no mundo, que, por mais que seja criticado, nos trouxe até aqui com todas as vantagens de uma 10 Engenharia Nacional e nos poupou da dependência estrangeira — que se percebe em outros países da América Latina, África, alguns países europeus e em outros cantos do mundo que não possuem um sistema de Enge- nharia própria, independente. Não há dúvida que o modelo brasileiro necessita de aperfeiçoamento, mas, se comparado com outros países em desenvolvimento, ele nos levou a alcançar a posição de oitava econo- mia no mundo mesmo com os graves problemas sociais que possuímos. Portanto, há que desenvolver, inovar, avaliar e redirecionar para novos caminhos a formação em engenha- ria, sem perder de vista que as bases da boa Engenharia brasileira estão consolidadas e não cabem reformas radicais e desconstruções curricu- lares precipitadas sem fundamento científico num mundo cada vez mais intensivo em conhecimento. As novas Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Engenharia (DCN-Engenharia) foram homologadas pelo Minis- tério da Educação (MEC) através da Resolução CES/CNE nº 2 de 24/04/2019 1 , com fundamento no Parecer CES/CNE nº 1/2019 de 23/01/2019, após uma controversa discussão sobre os conteúdos míni- mos que deveriam constar nelas. Os dirigentes de instituições de ensino, sindicatos e associações de profis- sionais, os Conselhos Regionais de Engenharia e Arquitetura (CREAs), a Associação Nacional de Engenha- ria (ANE) e a presidência do Clube de Engenharia constataram com surpresa que o texto de referência 2 , colocado em Consulta Pública 3 em 24/08/2018, não propunha qualquer conteúdo básico mínimo curricular, como matemática, física, química, computação e outros. Conteúdos assim sempre são definidos, de forma explícita, em qualquer Diretriz Curricular Nacional ou internacional, de forma que essa situação esdrúxula de supressão dos conteúdos curricu- lares ocorreu somente na proposta das DCN-Engenharia, o CNE não propôs condições semelhante às di- retrizes curriculares de outros cursos. As entidades de Engenharia resol- veram se unir e buscar sensibilizar “Há que desenvolver, inovar, avaliar e redirecionar para novos caminhos a formação em engenharia, sem perder de vista que as bases da boa Engenharia brasileira estão consolidadas e não cabem reformas radicais e desconstruções curriculares precipitadas sem fundamento científico”. o Conselho Nacional de Educação (CNE) da importância de se manter os conteúdos mínimos para garantir o padrão de qualidade de formação de engenheiros no país. A única Audiência Pública sobre o tema ocorreu no Clube de En- genharia em 21 de novembro de 2018, atraindo, surpreendentemente, mais de 200 participantes de todo o país, com destaque para a afluência de muitos dirigentes de escolas de engenharia, de instituições públicas e privadas. Foi quando se instituiu o Fórum Nacional de Dirigentes de Instituições de Ensino em Engenha- ria (Fordirenge), por estarem todos com a mesma preocupação: garantir um currículo mínimo para os cursos de engenharia. Após algumas ações, antes e depois da Audiência Públi- ca, a Fordirenge interagiu com uma Comissão assessora do Relator, o que resultou no consenso prescrito no Art. 9º, § 1º da Resolução CNE 02/2019. O parágrafo diz que os con- teúdos básicos mínimos que todas as habilitações do curso de Engenharia devem contemplar: Administração e Economia, Algoritmos e Programa- ção, Ciência dos Materiais, Ciências do Ambiente, Eletricidade, Estatís- tica, Expressão Gráfica, Fenômenos de Transporte, Física, Informática, Matemática, Mecânica dos Sólidos, Metodologia Científica e Tecnológi- ca, e Química. A Resolução CES/CNE nº 7/2018, que estabelece as Diretrizes de