Jornal do Clube de Engenharia 604 (Julho de 2019) | Page 7

Julho DE 2019 situação energética do país. Segun- do o superintendente da EPE, nos próximos oito anos teremos perda da participação da energia hidráulica na matriz; crescimento das fontes solar e eólica; e a necessidade de definir uma alternativa de energia “de ponta”, ou seja, com funcionamento contínuo, a exemplo de termelétricas a gás. O planejamento de longo prazo, para 2050, já envolve passar por uma transição energética que vai deman- dar inovação tecnológica, redução de custos, mudança de comportamento do consumidor e adaptação das regu- lações para reconhecer novas tecno- logias. Algumas fontes e produtos tecnológicos ainda incipientes, como a energia eólica offshore e os veículos elétricos, respectivamente, tendem a se destacar. No entanto, é preciso reconhecer que as necessidades não serão as mesmas em todo o país, de modo que o olhar regional também se faz necessário. Borghetti ainda destacou a necessidade de se reduzir as emissões de gases poluentes na atmosfera. A empresa vem se preparando para a transição e execução do plano, e para isso traçou uma metodologia e pos- síveis cenários de futuro. A metodo- logia se baseia nas melhores práticas mundiais, com quatro vertentes: ce- nário econômico; demanda de ener- gia; recursos disponíveis; e expansão da oferta de energia. Um possível cenário colocado por Borghetti, identificado pelos técnicos da em- presa, é de crescimento da geração distribuída em níveis micro e mini, e crescimento da eficiência energética em cerca de 20%. “Nós temos que encontrar dentro do planejamento do setor integrado algo equilibrado: que permita o acesso à energia para as pessoas e seja remunerável para o investidor, e ao mesmo tempo que o setor possa garantir o abastecimen- to”, resumiu. Biocombustíveis: a vantagem competitiva brasileira Não somente o corpo técnico go- vernamental se movimenta para a projeção de cenários: o professor Alexandre Salem Szklo apresentou estudos desenvolvidos no projeto Ce- nergia do Programa de Planejamento Energético (PPE) da COPPE. O grupo desenvolve diferentes mo- delagens energéticas, e o professor Salem descreveu o resultado de al- guns que consideram a necessidade de se cumprir as metas de redução de emissão de gases determinadas no Acordo de Paris. Foi identificada a necessidade da biomassa como combustível e de uma forte presença das energias renováveis para geração de eletricidade. Neste ponto, Salem lembrou que o Brasil é protagonista no biocombustível e apresenta van- tagens competitivas, por exemplo, ao produzir eucalipto de grande pro- dutividade, ideal para a fabricação de bioquerosene para a aviação. E, embora a demanda por combustível tenda a cair para os veículos - que serão elétricos -, nem toda a frota será movida a bateria, sendo possível ainda desenvolver a pilha-combus- tível a etanol. “O Brasil talvez seja o país onde a tecnologia avançada para biomassa deveria ser desenvolvida. Deveria ser um grande exportador de biocombustíveis avançados”, afirmou. Além do Clube de Engenharia, promoveram o evento a Diretoria de Atividades Técnicas (DAT) e Divi- são Técnica de Energia (DEN). A iniciativa foi apoiada pelas divisões técnicas de Engenharia do Ambien- te (DEA), Engenharia Econômica (DEC), Recursos Hídricos e Sanea- mento (DRHS), Recursos Naturais Renováveis (DRNR) e Petróleo e Gás (DPG). Wikipedia A busca do equilíbrio: acesso à energia para as pessoas, de forma a remunerar o investidor, com a certeza de que o setor pode garantir o abastecimento. No debate em pauta, quatro questões são consideradas de fundamental im- portância para o chefe da Divisão Técnica de Energia (DEN), James Bolivar. 1 - Na história, o Clube de Engenharia sempre esteve presente na discus- são das questões energéticas. 2- A nossa complexa matriz energética, que nos faz hoje praticamente au- tossuficientes, só foi possível alcançar quando a partir da década de quarenta o setor passou a ser tratado como estratégico para a economia nacional. O setor só veio a se consolidar completamente a partir da década de 60 com a participação das empresas estatais, podendo assim desenvolver as expansões de capacidade de geração de energia elétrica e de disponibiliza- ção de derivados necessários ao desenvolvimento do país. O planejamento energético foi inicialmente um papel da Eletrobras e Petrobras. No entanto, sofreu uma interrupção no governo FHC e só foi retomado com a criação da Empresa de Pesquisa Energética em 2004. Foi um marco fundamental, tornando-se importante consolidar ainda mais o seu papel. 3 - As informações do balanço energético atuais demonstram uma ma- triz energética não inteiramente compatível com as necessidades do país, principalmente no que toca à modicidade das energias finais disponibi- lizadas aos consumidores residenciais, comerciais, de serviços, industriais etc. Isto foi resultado de decisões equivocadas de autoridades objetivando satisfazer a interesses particulares, políticos ou ideológicos, decisões in- consistentes com as orientações emanadas dos estudos de planejamento do setor energético. 4 - As informações e dados do balanço energético, embora importantís- simos, são insuficientes para se elaborar um planejamento energético efi- ciente. Isto deixa precárias as decisões setoriais das autoridades em relação aos seus objetivos finais. Torna-se urgente que a EPE e o Ministério de Minas e Energia desenvolvam os estudos relativos à energia útil, ao fluxo das cadeias energéticas e estruturas das matrizes de preços das energias primárias, secundárias e finais do balanço energético nacional. Com isto pode-se fazer um diagnóstico competente do setor energético nacional, o que é basilar para a elaboração de um planejamento energético eficaz e para a tomada de decisões corretas e objetivas. 7