Jornal do Clube de Engenharia 604 (Julho de 2019) | Page 4

DEMOGRAFIA Censo Demográfico de 2020 em risco O Censo Demográfico de 2020, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), será atípico: o conteúdo preparado desde 2016 pelos técnicos sofreu cortes e foi alterado por decisão dos atuais gestores do órgão, a presidente Susana Cordeiro Guerra, e o diretor de Pesquisas, Edu- ardo Rios Neto. Para esclarecer e debater a crise institucional e suas consequências, o Clube de Engenharia sediou o seminário “Censo, universida- de e democracia” no dia 17 de junho, em conjunto com o Conselho Federal de Economia (Cofecon), Conselho Regional de Economia da 1ª Região RJ (Corecon-RJ), Associação Brasileira dos Econo- mistas pela Democracia (ABED) e o Sindicato Nacional dos Trabalhadores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (ASSIBGE). vel má qualidade do resultado do Censo comprome- te a credibilidade do corpo técnico permanente do IBGE, o grupo que irá arcar com a responsabilidade posteriormente. E afirma que a retirada de quesitos do Censo fere o que deveria ser a regra de ouro do processo: levar em conta as contribuições de espe- cialistas das diferentes áreas, manter a comparabili- dade, auscultar novas tendências e aprender com a experiência de censos anteriores. Segundo a Carta Aberta em Defesa do Censo Demográfico 2020, com 255 signatários, apesar de os cortes terem sido baseados em discurso em prol da qualidade da pesquisa, é exatamente esta que fica comprometida. O documento informa que a possí- Essas questões foram levantadas no evento por Roberto Olinto, ex-presidente do IBGE, Dione de Oliveira, coordenadora do Sindicato Nacional dos Trabalhadores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (ASSIBGE) e Paulo Jannuzzi, pro- fessor da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE/IBGE). Olinto, que foi presidente da instituição entre 2017 e fevereiro de 2019, explicou que o Censo de 2020 elaborado pelos técnicos já tinha uma proposta de redução, evitando eliminar pontos fundamentais dos dados demográficos, que foi ignorada. Para Dione de Oliveira, a ameaça de descrédito dos técnicos da instituição se soma a ou- tros problemas, como o déficit de servidores efetivos, o que pode levar o IBGE a um apagão estatístico e da própria capacidade de trabalho. Também participaram do evento Pedro Celestino, presidente do Clube de Engenharia; Carlos Vainer, diretor do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ; Wellington Leonardo, presidente do Cofecon; De- borah Werner, professora do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPPUR/UFRJ); e Luis Gustavo Martins, coordenador da Associação Bra- sileira dos Economistas pela Democracia (ABED). Saiba mais: http://bit.ly/SeminarioIBGE EDUCAÇÃO Novas Diretrizes Curriculares de Engenharia As novas Diretrizes Curriculares de Engenharia, encaminhadas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), órgão vinculado ao Ministério da Educação, em janeiro deste ano, foram alvo de muitas polêmi- cas. O Clube de Engenharia participou ativamente da construção de um amplo debate nacional, com a realização de encontros para discutir as novas dire- trizes para os cursos de Engenharia. Com a proposta de mudança das diretrizes de 2002, o Clube de Engenharia, em novembro de 2018, sediou uma audiência pública para debatê-la. Na ocasião, reuniu-se, em um plenário altamente quali- ficado, um público de cerca de 250 pessoas: estavam representadas comunidades acadêmicas, científicas e das áreas de tecnologia, entidades nacionais ligadas ao ensino das Engenharias, gestores públicos, escolas técnicas, profissionais, diretórios acadêmicos e em- presas para a reformulação das diretrizes curriculares dos cursos de graduação em Engenharia. 4 Entre as questões centrais, a preocupação com as ameaças à qualidade do ensino e com o curto prazo estipulado para definir uma regulação de suma importância e com muitos impactos acadêmicos, jurídicos, sociais e econômicos. Para organizar o debate, que envolve o futuro da engenharia nacio- nal, o Clube, junto com outras instituições, formou uma comissão para discutir o tema, coordenada pelo engenheiro civil e conselheiro Paulo Alcântara Gomes, ex-presidente da Academia Nacional de Engenharia (ANE) e ex-reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O resultado do processo foi positivo, e o CNE acatou a maioria das reivindicações do setor. Para dar continuidade às interlocuções na área, o conselheiro Paulo Alcântara Gomes fez, no dia 27 de junho, a apresentação das novas diretrizes. “As diretrizes que seriam aprovadas no Governo Temer consagravam o ensino à distância, a redução da carga horária para formação de engenheiro pleno, isto é, nos levariam à condição de formadores de profissionais sem a menor condição teórica de de- sempenhar suas atividades”, destacou o presidente do Clube de Engenharia, Pedro Celestino, durante a abertura da palestra. Em meio ao rico debate de avaliação dos resultados, sob o comando de Paulo Alcântara chegou-se a um consenso: o modelo de ensino de engenharia precisa- va de uma reformulação para aproximar os estudantes da prática e os manter mais motivados para evitar evasão, destacada na palestra como um grande pro- blema. De acordo com estimativa apresentada pelo conselheiro, a cada 175 que ingressam nos cursos de engenharia, apenas 95 concluem. Também foi con- sensual que os futuros engenheiros devem estar ali- nhados com as novas tendências e tecnologias e que devem ser resolvidos os problemas de base (ensino da matemática e da física) na educação no país. Con- cluiu-se pela necessidade de manter o debate vivo. O evento contou com apoio da Diretoria de Atividades Técnicas (DAT), Divisão Técnica de Exercício Profissional (DEP) e Divisão Técnica de Formação do Engenheiro (DFE).