Jornal do Clube de Engenharia 602 (Maio de 2019) | Page 3
maio DE 2019
Indústria
Motores desligados: indústria brasileira perde o fôlego
Dados do IBGE apontam
estagnação em diferentes
macrossetores: o de bens
intermediários, responsável por
insumos e central na indústria,
registra quedas seguidas desde
setembro de 2018
Os números confirmam: na passa-
gem de 2018 para 2019, a indústria
perdeu fôlego e desligou os motores.
Sua produção declinou no último
trimestre do ano passado e em janei-
ro do presente ano. Em fevereiro
último, o resultado voltou a ser posi-
tivo, mas a recomposição do nível de
atividade foi pouca. A consequência
é uma virtual estagnação no primei-
ro bimestre de 2019.
Os dados do Produto Interno Bruto
(PIB) brasileiro em 2018, divulgados
em fevereiro deste ano pelo IBGE,
apontam que o país não se recuperou
da crise econômica que atravessa
desde 2014. Com crescimento de
apenas 1,1%, a economia brasileira
ainda está no patamar de 2012. E
o relatório do Instituto de Estudos
para o Desenvolvimento Industrial
(IEDI), divulgado no início de abril,
realizado com base em dados do
Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), traz o peso da
crise para a indústria: entre 2018 e
2019, o setor estagnou.
O Banco Central divulgou, em 15
de abril, levantamento feito com 100
instituições financeiras do país que
aponta pessimismo no crescimento
do PIB para 2019. A previsão média
do mercado financeiro é que o PIB
cresça apenas 1,71% este ano, contra
1,95% do levantamento. Trata-se da
oitava vez seguida que a expectativa
de crescimento cai na pesquisa feita
pelo BC, o que na prática indica que
as instituições financeiras estão pes-
simistas com relação ao PIB. Apesar
de ser especulativo, o levantamento
do BC é um dos termômetros da
economia e pode afetar, por exemplo,
a confiança do empresariado e os
investimentos na indústria nacional.
Produção em queda
No acumulado de doze meses (feve-
reiro de 2018 e fevereiro de 2019), a
indústria em geral teve crescimento
da produção de apenas 0,5%, com
quedas nos macrossetores de bens in-
termediários (-0,3%) e semiduráveis
Variações da Produção Industrial - Fevereiro 2019 - %
Indústria Geral
No mês (com
ajuste sazonal) Mesmo mês
ano anterior No ano Doze
meses
0,7% 2,0% -0,2% 0,5%
Bens de capital 4,6% 7,0% 0,1% 5,6%
Bens intermediários -0,8% -0,4% -0,9% -0,3%
Bens de consumo 1,6% 5,3% 1,2% 1,0%
Bens de consumo
duráveis 3,7% 12,2% 3,7% 5,7%
Semiduráveis e não
duráveis 0,7% 3,2% 0,5% -0,2%
-14,8% -9,9% -4,4% 0,6%
1,0% 3,8% 0,4% 0,5%
Extrativa Mineral
Transformação
Fonte: IEDI, com dados do IBGE
e não duráveis (-0,2%). Houve cres-
cimento nos macrossetores de bens
de capital (+5,6%), bens de consumo
(+1%), bens de consumo duráveis
(+5,7%), extrativa mineral (+0,6%)
e transformação (+0,5%). O resul-
tado médio, de paralisação, aponta a
existência de problemas sistemáticos,
que precisam ser endereçados pelo
Estado em parceria com o setor pri-
vado para que a indústria como um
todo se recupere.
“No primeiro bimestre de 2019, entre
os macrossetores industriais, o caso
mais grave de perda de dinamismo é
o de bens intermediários. Não tanto
pela magnitude (-0,9% ante primeiro
bimestre de 2018), mas pela sequên-
cia das quedas, que vêm ocorrendo
repetidamente desde setembro de
2018. Como os bens intermediários
consistem em insumos aos demais
setores, este macrossetor ocupa uma
posição central no sistema industrial.
Por isso, seu retrocesso duradouro é
mais uma evidência do enfraqueci-
mento do dinamismo da indústria
geral”, diz o relatório.
Dos 26 ramos específicos da in-
dústria pesquisados pelo IBGE, 12
ficaram no vermelho no acumulado
anual de crescimento. O ramo mais
afetado foi o de Produtos Alimen-
tícios, que caiu 0,87%. Em todos
os outros, no entanto, os resultados
estiveram estagnados, com variação
inferior a 1%, para mais ou para
menos. Em 64% deles já haviam sido
registradas quedas no último trimes-
tre do ano passado.
Capacidade instalada
Segundo o relatório, a utilização da
capacidade instalada da indústria
“continua abaixo da média histórica
e não tem progredido”. Um exem-
plo é a Indústria de Transforma-
ção, cujo índice em fevereiro deste
ano – 74,7% – está paralisado com
relação ao ano passado e abaixo da
média histórica, iniciada em 2001, de
80,1%. “A permanência da utilização
da capacidade em níveis historica-
mente baixos e sem uma trajetória
inconteste de acentuada melhora
não é um indício favorável para a
evolução futura do investimento,
isso porque máquinas e equipamen-
tos atualmente ociosos deverão ser
postos em funcionamento antes de
os empresários pensarem em ampliar
sua capacidade de produção”, diz o
relatório do IEDI. “Em contraparti-
da, a existência de capacidade ociosa
significa que existem plenas con-
dições de oferta para garantir uma
recuperação da atividade econômica
sem pressões inflacionárias”, aponta
o instituto.
Confiança do empresário
Outro destaque do relatório diz
respeito aos índices de confiança do
empresário industrial, que podem
indicar maior ou menor investimento
no setor. O IEDI destaca que tanto
no Índice de Confiança da Indústria
de Transformação (ICI), da Funda-
ção Getúlio Vargas (FGV), quanto
no Índice de Confiança do Empre-
sário da Indústria de Transformação
(ICEI), da Confederação Nacional
da Indústria (CNI), houve queda em
março deste ano, “indicando o risco
de mais um resultado desfavorável
para o setor, o que comprometeria o
primeiro trimestre do ano”. O ICI-
FGV caiu de 99 pontos em fevereiro
para 97,2 pontos em março – valores
abaixo de 100 pontos indicam queda
da confiança e piora das expecta-
tivas. Já o ICEI-CNI caiu de 64,7
para 62,7 – a linha divisória de oti-
mismo e pessimismo é de 50 pontos
nesse índice.
3