Jornal do Clube de Engenharia 601 (Abril de 2019) | Página 2
Editorial
EXPEDIENTE
Onde está o orgulho nacional?
O Brasil, desde os anos 30 do século passado, deixou de
ser simples exportador de produtos primários para, graças
à atuação de sucessivos governos em diferentes regimes,
se tornar uma das maiores economias do Mundo. Corre
hoje o risco de voltar àquela situação, em decorrência do
desmonte em curso, de instrumentos essenciais à geração
de empregos e ao nosso desenvolvimento, tais como a
Petrobrás, o BNDES, o Banco do Brasil e a Caixa.
Tomemos o caso da Petrobrás, responsável até há pouco
por uma cadeia de mais de 5.000 empresas, nacionais
e estrangeiras, e por cerca de 800.000 empregos espe-
cializados, dentre os quais, de 60.000 engenheiros. Nos
últimos dias, a sua administração comunicou a priva-
tização de todos os gasodutos das Regiões Nordeste e
Norte, a decisão da venda da maioria de suas refinarias e
a privatização da Petrobrás Distribuidora – BR.
A Transportadora Associada de Gás – TAG, subsidiária
integral da Petrobrás e proprietária daqueles gasodutos,
foi privatizada com base no Decreto nº 9.188/2017,
que regulamenta a dispensa de licitação, afrontando a
liminar do Ministro Ricardo Lewandowski do STF, que
decidiu pela exigência prévia de licitação para se desfa-
zer de ativos, no âmbito da Ação Direta de Inconstitu-
cionalidade – ADI nº 5624.
A Petrobrás passa a depender de uma empresa estran-
geira para produzir e transportar seu próprio petróleo,
uma vez que a produção petrolífera depende do trans-
porte do gás associado àquela produção.
A Petrobrás comunicou também a decisão de vender
oito refinarias: Refinaria Abreu e Lima (RNEST) em
Pernambuco, Unidade de Industrialização do Xisto
(SIX) no Paraná, Refinaria Landulpho Alves (RLAM)
na Bahia, Refinaria Gabriel Passos (REGAP) em
Minas Gerais, Refinaria Presidente Getúlio Vargas
(REPAR) no Paraná, Refinaria Alberto Pasqualini
(REFAP) no Rio Grande do Sul, Refinaria Isaac Sabbá
(REMAN) no Amazonas e Lubrificantes e Derivados
de Petróleo do Nordeste (LUBNOR) no Ceará. So-
mente as refinarias dos Estados de São Paulo e Rio de
Janeiro serão, por ora, mantidas sob seu controle.
Segundo o presidente da Petrobrás, “Nós estamos des-
truindo valor com o refino”. Ora, refinarias não destro-
em, mas agregam valor ao petróleo. Isso é ainda mais
verdade no caso da Petrobrás, cujo custo de refino é de
apenas US$ 2,50 por barril. Se o refino não agregasse
valor, as grandes empresas do setor, estatais e privadas,
2
PRESIDENTE
Pedro Celestino da Silva Pereira Filho
1º VICE-PRESIDENTE
Sebastião José Martins Soares
não teriam capacidade de refino maior que a de produ-
ção de petróleo. 2º VICE-PRESIDENTE
Márcio João de Andrade Fortes
São justamente as refinarias que garantem a lucrativi-
dade das grandes empresas petrolíferas em momentos
em que o preço do petróleo é baixo. Assim, as refina-
rias aumentam a resiliência financeira delas. Aqui, por
exemplo, até a década de 1980, quando passou a ser sig-
nificativa a produção nacional de petróleo, a Petrobrás
foi, basicamente, uma empresa de refino, com a missão
de abastecer o Brasil aos menores custos possíveis. DIRETORA DE ATIVIDADES
INSTITUCIONAIS
Maria Glícia da Nóbrega Coutinho
A Petrobrás informou também sobre a venda adicional
de participação na BR, permanecendo apenas como
acionista. Deixará de ser o acionista controlador, o que
significará a privatização daquela empresa.
Nenhuma grande empresa petrolífera prescinde do setor
de distribuição. O mundo conhece as grandes petrolí-
feras por causa das suas marcas e bandeiras, estampadas
nos postos revendedores. Além disso, as distribuidoras,
tal como a BR, são sempre muito rentáveis.
Em razão da inconsequente gestão da Petrobrás, a esta-
tal continua a ser desintegrada e destruída, processo que
teve início na administração Bendine, no governo de
Dilma Rousseff. Com seus baixos custos de produção
e de refino de petróleo, a Petrobrás é a única empresa
que, em razão de sua eficiente integração, pode garantir
o fornecimento de combustíveis a preços justos para a
sociedade brasileira. Relegá-la à condição de mera pro-
dutora e exportadora de petróleo bruto, como ocorre em
vários países do Terceiro Mundo, significará, para nós
brasileiros, empregos apenas em transporte, segurança
e alimentação. Daremos adeus a empregos especializa-
dos, a empregos para engenheiros e ao desenvolvimento
tecnológico.
Finalmente, registre-se que a lei nº 9.491/1997, que
flexibilizou o monopólio estatal do petróleo, veda a pri-
vatização da Petrobrás. Dessa forma, a estatal somente
pode ser privatizada por decisão do Congresso Nacio-
nal. A administração da Petrobrás, no entanto, ignora a
lei e promove a privatização fatiada da empresa.
DIRETORES DE ATIVIDADES TÉCNICAS
Artur Obino Neto
João Fernando Guimarães Tourinho
José Eduardo Pessoa de Andrade
Maria Alice Ibañez Duarte
DIRETOR DE ATIVIDADES SOCIAIS
Bernardo Griner
DIRETOR DE ATIVIDADES CULTURAIS
Cesar Drucker
DIRETORES DE ATIVIDADES FINANCEIRAS
Leon Zonenschain
Luiz Oswaldo Norris Aranha
DIRETORIA DE ATIVIDADES
ADMINISTRATIVAS
Leon Zonenschain
Luiz Carneiro de Oliveira
CONSELHO FISCAL
Eliane Hasselmann Camardella Schiavo
Marco Aurélio Lemos Latgé
Denise Baptista Alves
Mauro Fernando Orofino Campos
Severino Pereira de Rezende Filho
CONSELHO EDITORIAL
Coordenador: Pedro Celestino
Alcides Lyra Lopes
Ana Lúcia Moraes e Souza Miranda
Carlos Antonio Rodrigues Ferreira (Licenciado)
Fátima Sobral Fernandes
José Stelberto Porto Soares
Márcio Patusco Lana Lobo
Margarida Lourenço Castelló
Mariano de Oliveira Moreira
Newton Tadachi Takashina
Tatiana da Silva Ferreira
REDAÇÃO
Editora e jornalista responsável
Tania Coelho - Reg. Prof. 16.903
Destruir a Petrobrás é destruir uma parte do Brasil, é
pisotear o orgulho nacional. O Clube de Engenharia
conclama a sociedade a reagir ao desmonte, a se indig-
nar diante de decisões que comprometem irremediavel-
mente o nosso futuro como nação soberana. Textos: Carolina Vaz - Reg. Prof. 0037449/RJ,
Guilherme Alves e
Juliana Portella - Reg. Prof. 38269/RJ
A Diretoria Impressão: Folha Dirigida
Editoração: Márcia Azen
Produção: Espalhafato Comunicação
Fotos: Fernando Alvim/Arquivo Clube de Engenharia
Colaboração: Marcia Ony