Jornal do Clube de Engenharia 600 (Março de 2019) | Page 9
março DE 2019
ACADEMIA
Ato de desagravo ao desmonte da universidade pública
Reitor da UFRJ, Roberto Leher: “É muito importante que todos esses servidores sejam protegidos”.
Durante o ato realizado no Clube
de Engenharia, dia 11 de março, em
solidariedade aos servidores da UFRJ
que foram recentemente conde-
nados, acusados injustamente de
desvio de dinheiro público, o reitor
da Universidade Federal do Rio de
Janeiro, professor Roberto Leher
definiu assim o encontro: “O Clube
de Engenharia, neste momento, está
afirmando uma convicção importante
dos setores democráticos. Nós temos
que proteger nossas universidades,
nós temos de proteger todos aquelas
e aqueles que fazem da sua vida um
gesto de dedicação e direcionamento
radical na produção do conhecimento
para a formação humana”.
O encontro foi fruto da mobilização
nacional que questiona a sentença
emitida no dia 28 de fevereiro pela
juíza Caroline Vieira Figueiredo, da 7ª
Vara Criminal da Justiça Federal, que
condenou por peculato o ex-reitor da
UFRJ, professor Carlos Antonio Levi,
o professor Raymundo de Oliveira, ex
-presidente da Fundação Universitária
José Bonifácio (FUJB) e ex-presidente
do Clube de Engenharia, além de João
Eduardo do Nascimento Fonseca, Luiz
Martins de Melo e Geraldo Luiz dos
Reis Nunes. O processo investigou
supostas irregularidades no recebimen-
to de recursos da FUJB, que apoia as
atividades da UFRJ ancorada na Lei
das Fundações (Lei nº 8958, de 1994).
O amplo movimento para questionar
a condenação dos servidores da UFRJ
vai apelar contra a decisão judicial.
“Temos confiança de que todas as
dúvidas serão dirimidas e teremos
sentenças favoráveis, que vão, de for-
ma justa, reafirmar a dignidade, a ética
e, sobretudo, o espírito generoso des-
ses nossos dirigentes que assumiram
uma tarefa complexa e áspera, que é
justamente o governo da universida-
de”, afirmou Leher. “É muito impor-
tante que todos esses servidores sejam
protegidos”, disse ele.
Ataques sucessivos
Pedro Celestino, presidente do Clube
de Engenharia, destacou que os ser-
vidores têm uma trajetória honrada
de serviços prestados à universidade
e à sociedade. “Estamos diante de
um movimento que se destina a
desacreditar a universidade pública
brasileira. Não é a primeira vez que
isso ocorre. Esse movimento já levou
ao suicídio do reitor da Universidade
Federal de Santa Catarina. Já levou à
prisão e desmoralização de dirigentes
da Universidade Federal de Minas
Gerais. Esse movimento, se não for
detido pela reação organizada da
nossa sociedade, implicará na des-
truição da universidade pública. É
por isso que estamos aqui. Estamos
a defender a integridade, a honra, de
homens públicos que dedicaram sua
vida à universidade pública, ensinan-
do gerações e gerações de engenhei-
ros”, clamou.
O reitor Roberto Leher questionou a
abordagem da Justiça nessas inves-
tigações recentes. “São ações ampa-
radas em decisões judiciais com uma
estética muito característica. Em ge-
ral, às seis horas da manhã, 80 a 100
policiais encostam no prédio onde
mora um reitor e sobem para fazer
uma condução coercitiva de forma
vexatória e humilhante, não apenas
com os indivíduos que são atingidos,
mas com as instituições”, lamentou.
“Claramente nós temos ações que
produzem uma imagem pública sobre
a universidade como se em nossas
instituições prevalecesse a malversação
de recursos públicos, e os reitores, diri-
gentes e representantes das fundações
constituíssem um conjunto de pessoas
cujo objetivo é apropriação indevida.
Obviamente isso é um ato que atinge
os indivíduos, mas seguramente é um
ato que alcança a legitimidade das
universidades”, criticou o reitor. “E, no
contexto em que estamos vivendo, de
difusão de fake news, as universidades
tornam-se instituições incompatíveis
com a existência dessa forma de fazer
política, porque nelas prezam a verda-
de e a produção de um conhecimento
ético”, afirmou.
Desenvolvimento científico
O professor Fernando Peregrino,
presidente do Conselho Nacional das
Fundações de Apoio às Instituições
de ensino Superior e de Pesquisa
Científica e Tecnológica (ConFieS),
explicou que “as fundações foram
criadas como um movimento da
comunidade científica, que reclamava
da excessiva burocracia de gerir um
projeto de pesquisa”. Os órgãos de
controle, disse ele, viam a Ciência de
forma programada e determinada,
o que não era a realidade de grande
parte dos cientistas, que trabalham
com um planejamento flexível. A
pesquisa científica, lembrou, segue o
curso das descobertas, com variáveis
e hipóteses determinando seu rumo.
Segundo Peregrino, existem hoje no
país 94 fundações como a FUJB, que
apoiam 132 universidades e centros
de pesquisa. São 22 mil projetos
gerenciados, mobilizando quase R$ 5
bi por ano e sendo auditados por 18
órgãos de controle.
Solidariedade e
esclarecimentos
O ex-reitor Carlos Antonio Levi
agradeceu a mobilização. “O que
ajuda a transpor a situação é o acolhi-
mento, o apoio, a solidariedade”, disse
ele. “Este encontro nos dá oportu-
nidade para esclarecimentos”, com-
pletou. Levi afirmou que parte dos
fatos pelos quais foi acusado sequer
aconteceram quando ele era reitor
da UFRJ. Ele defendeu a atuação da
FUJB, que auxilia a UFRJ a garantir
o uso de recursos para pesquisas que,
de outra forma, poderiam ser até
contingenciados. “O legislador teve a
sensibilidade de agilizar os processos
de captação e gestão de projetos”,
afirmou, citando a criação da Lei das
Fundações e reafirmando a lisura das
administrações.
9