Jornal do Clube de Engenharia 596 (Novembro de 2018) | Page 12
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TECNOLOGIA
Universalização da banda larga em suspenso
O VIII Fórum da Internet no Brasil,
realizado pelo Comitê Gestor da
Internet no Brasil (CGI.br), em Goi-
ânia, entre os dias 4 e 7 de novembro,
ratificou a importância de espaços
multissetoriais para a discussão de
aspectos críticos ao desenvolvimento
da rede no país. Composto por 27
workshops propostos pela comuni-
dade de Governança da Internet, o
fórum discutiu, entre outros temas, o
impacto da Internet nas eleições des-
te ano, a regulamentação da nova Lei
Geral de Proteção de Dados Pessoais
e políticas de telecomunicações.
No dia 4 aconteceu a reunião da Câ-
mara de Universalização e Inclusão
Digital do CGI.br. Formado por
conselheiros do comitê e demais in-
teressados, o grupo objetiva avaliar e
propor caminhos para políticas pú-
blicas que centralizem o acesso e uso
da Internet no enfrentamento das
desigualdades sociais. Marcio Patus-
co, conselheiro do Clube de Enge-
nharia e membro da Câmara, esteve
na reunião representando a entidade.
“Na ocasião tivemos a apresentação,
pelo Tribunal de Contas da União
(TCU), de um documento avaliativo
sobre a política de banda larga no
Brasil. A principal crítica do TCU, já
há algum tempo, é que a Agência Na-
cional de Telecomunicações (Anatel)
e o Ministério da Ciência, Tecnolo-
gia, Inovação e Comunicações (MC-
TIC) não têm uma visão de longo
prazo sobre as políticas de inclusão
digital”, explicou Patusco. A crítica,
segundo ele, também foi direcionada
ao Projeto de Lei da Câmara (PLC)
79/2016, conhecido como “PL das
Teles”, que propõe, entre outras al-
terações, acabar com as concessões
de telecomunicações, desregulamen-
tando o setor para que as empresas
possam atuar sem contrapartidas de
universalização dos serviços.
No documento intitulado “Política
Pública de Banda Larga”, o TCU
concluiu (p. 66) que: “Ao considerar
a proposta de decreto de telecomu-
nicações e seus documentos-base, e a
partir da realização de diversas entre-
vistas com atores-chave, a equipe do
levantamento identificou riscos que
podem comprometer a efetividade da
política, bem como aumentar a desi-
gualdade regional e social, por meio
do aumento da desigualdade digital.”
A Anatel apresentou na reunião o
chamado PERT, o Plano Estrutu-
ral de Redes de Telecomunicações,
PL das Teles volta ao Senado
O PLC 79/2016 tem, desde o iní-
cio de sua tramitação, mobilizado
organizações da sociedade civil,
incluindo o Clube de Engenharia,
que denunciam problemas em sua
concepção. Além de desregulamen-
Em defesa de políticas públicas que centralizem o acesso e uso da Internet no enfrentamento das desigualdades sociais.
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gestado desde 2017 como um novo
planejamento regulatório. “O PERT
veio para suprir uma deficiência de
politica de longo prazo. Mas as gran-
des fontes de recursos para o plano
são questionáveis. 1º- Os Termos de
Ajustamento de Condutas (TACs),
acordos que a Anatel faz com as em-
presas para trocar multas por inves-
timentos, mas que estão parados. A
Telefônica, por exemplo, quis usar o
TAC para investir em áreas rentáveis,
e não em áreas não rentáveis, como
era a obrigação prevista no termo. 2º-
Modificações no Fust e Fistel, fundos
setoriais alimentados com impostos,
mas que têm sido historicamente
contingenciados. 3º e último: o PLC
79/2016, que ninguém ainda sabe se
será aprovado”, esclareceu.
Proposta da Anatel de mudança
regulatória é insuficiente, diz
Marcio Patusco. Enquanto isso,
PL das Teles volta ao Senado
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tar as telecomunicações, também
entrega para as empresas do setor os
chamados bens reversíveis, que são
imóveis, equipamentos e outros bens
pertencentes à União desde a época
anterior à privatização do setor em
1997 e que foram emprestados às
empresas que receberam concessões
de telefonia.
Segundo Marcio Patusco, o grande
problema está na ineficiência do
Poder Público em determinar o
valor de tais bens: “A Anatel havia
estimado, há alguns anos, em 17
bilhões de reais. Mas o TCU esti-
mou em 108 bilhões de reais. Agora,
na audiência pública, apareceu outro
valor, de cerca de 70 bilhões de reais.
Apesar de a Anatel afirmar que con-
trataria duas consultorias interna-
cionais e uma terceira auditora para
determinar o valor dos bens, existem
incertezas com relação aos procedi-
mentos desse cálculo”, disse Patusco,
completando que “É estranho que
haja uma mobilização das empresas
e do governo para aprovar o PLC 79
sem antes se saber o real valor dos
bens reversíveis. Parece haver uma
cooptação para que o valor seja pe-
queno e as empresas possam assumir
o investimento”.
Parado no Senado, o PLC voltou à
pauta. No dia 7 foi votado e apro-
vado na Comissão de Ciência, Tec-
nologia, Inovação, Comunicação e
Informática e agora irá para votação
no plenário. “Caberá às organizações
da sociedade civil alertarem os sena-
dores sobre os perigos do projeto”,
concluiu Marcio Patusco.
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