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NOVEMBRO DE 2017
TRABALHO
As reformas já sancionadas e o futuro do trabalho em debate
A reforma trabalhista , já sancionada pelo governo federal , e da Previdência Social , em trâmite no Congresso Nacional , impactarão fortemente a configuração do mercado de trabalho brasileiro no futuro . É o que apontam especialistas convidados para o seminário “ O Futuro do Trabalho no Brasil ”, realizado no dia 19 de outubro , no Clube de Engenharia , pela Coppe / UFRJ e o Laboratório do Futuro . “ Os governos estão cada vez mais próximos das empresas e do capital financeiro , e mais distantes dos cidadãos ”, apontou Jano Moreira de Souza , professor titular da Coppe / UFRJ e moderador do evento . Segundo ele , a tendência é que os trabalhadores precisem não apenas enfrentar os patrões em defesa de seus direitos , mas os próprios governos . “ Caminhamos do Estado de Bem-Estar Social para o de Mal-Estar Social ”, afirmou .
Para o diretor da Organização Internacional do Trabalho no Brasil , Peter Poschen , é necessário reestruturar a governança do trabalho no mundo inteiro , levando em consideração o crescimento e envelhecimento da população , o aumento da mecanização e automatização do trabalho e mesmo as mudanças climáticas . “ A função
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Automatização e novas formas de emprego são tendências para os próximos anos
principal da OIT é criar as regras do jogo , as normas internacionais do trabalho que são base das legislações trabalhistas em todo o mundo ”, apontou o diretor , citando um estudo , que a organização prepara há dois anos e que será finalizado em 2019 , em que serão compilados caminhos possíveis para um futuro do trabalho justo .
Apesar de ser difícil fazer previsões , Eduardo Barbosa , tecnologista no Centro de Análise e Sistemas Navais do Ministério da Defesa ( CASNAV ), e Yuri Lima , líder de desenvolvimento no Centro de Apoio a Políticas de Governo da Coppe / UFRJ ( CAPGov ), apresentaram tendências , fruto de um estudo que propõe pensar como será o mercado de trabalho em 2050 . As principais transformações devem vir do aumento da “ computerização ”, isto é , a automação do trabalho por meio de computadores , inteligência artificial e robótica ; do crescimento de formas alternativas de emprego , como trabalho temporário , terceirização e “ auto-emprego dependente ” ( caso de motoristas da Uber ); da luta por igualdade de gênero , que deve permanecer como desafio ; e da reinvenção dos sindicatos , que precisarão se adaptar a essas novas realidades e também às mudanças na legislação trabalhista .
“ É preciso fazer um amplo debate sobre a tecnologia no mercado de trabalho . Pensar como ela pode ajudar o trabalhador que já está no mercado e está sujeito às transformações profundas , inclusive o desemprego ”, disse Douglas Freitas , diretor do Sindicato dos Comerciários do Rio de Janeiro ( SEC-RJ ). “ Os trabalhadores não estão preparados para enfrentar as reformas , muitos sequer conhecem suas cláusulas . Eles não foram chamados para discuti-las ”, criticou ele .
O envelhecimento percentual da população tende a impor uma reorganização do mercado , aponta Márcia Tavares , fundadora e CEO do Laboratório da Longevidade . “ A tendência é que as pessoas possam ter a aposentadoria faseada , por exemplo ”, disse ela , lembrando que governos e empresas têm responsabilidade compartilhada . Gastos em saúde , a necessidade de renovação nos postos de trabalho e mesmo a convivência entre trabalhadores de diferentes gerações são fatores que impactarão fortemente as relações trabalhistas no futuro , um movimento que já começa a ser experimentado hoje .
Participaram do seminário , ainda , Carlos Henrique Moreira , da Escola de Administração Fazendária do Ministério da Fazenda ; David Almeida , analista de negócios da startup Lemobs ; Márcio Antélio , professor do CEFET ; Cíntia Possas , advogada trabalhista ; e Daniele Moretti , diretora do SEC-RJ .
Leia mais : bit . ly / futuro _ trabalho
Mudanças esquecem a realidade do mundo do trabalho
Cíntia Possas , advogada trabalhista , afirmou que a reforma da Consolidação das Leis do Trabalho ( CLT ) deixa os trabalhadores vulneráveis com relação ao futuro do trabalho . “ Foram mais de 100 artigos |
modificados , mas nenhum deles para de fato modernizar as situações que vivemos hoje . O que observamos é um retrocesso em alguns direitos ”, criticou ela . A advogada citou a mudança que permite que agora empregados e patrões negociem |
diretamente cláusulas dos contratos de trabalho . “ A mídia tratou como uma novidade , mas isso já existe hoje , com a diferença de que é feita por intermédio dos sindicatos , em negociações coletivas . É uma mudança que esquece a realidade do |
mundo do trabalho , já que o que mais acontece é o trabalhador aceitar cláusulas já prontas . Se existir negociação , será com uma minoria ”, diz ela . |
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