Jornal do Clube de Engenharia 584 (Novembro de 2017) | Page 3

NOVEMBRO DE 2017 MOBILIDADE Diretrizes para humanização e qualidade de vida na cidade Após reuniões e estudos, grupo de trabalho formado por conselheiros e especialistas do Clube de Engenharia apresenta documento com linhas mestras de uma política de mobilidade para a cidade do Rio de Janeiro. Com relatoria de Fátima Sobral Fernandes, a colaboração de Chequer Jabour Chequer, Fernando Tourinho, Flavio Martin, Hostilio Ratton, Luiz Flavio Autran, Marcio Queiroz e Miguel Bahury, a proposta apresenta 45 objetivos relacionados à gestão, demanda, circulação de pessoas e cargas, além de diretrizes para modais específicos. Fatores culturais Contextualizar a necessidade de políticas eficientes de mobilidade urbana para o Rio de Janeiro é atentar para o crescimento desordenado de uma cidade de 6,5 milhões de habitantes, no coração de uma região metropolitana que abriga um total de 12,2 milhões de pessoas. Em paralelo ao desafio de ordenar um município tão populoso em harmonia com sua região metropolitana, há fatores culturais que emperram o setor: não há planejamento, e a descontinuação de políticas é comum a cada novo governo eleito. Não há compromisso dos gestores públicos com a continuidade na O Rio de Janeiro, há décadas, dá exemplos nada louváveis de má gestão na área de mobilidade urbana. Projetos que não se conectam, modais que se sobrepõem e novidades implantadas sem aviso para a população. E todo o sistema rodoviário de ônibus pensado e gerido com pouco ou nenhum diálogo com os usuários e, consequentemente, nenhuma atenção para os anseios da população. BRT - Terminal Alvorada. O cenário com as obras de infraestrutura e transporte para as Olimpíadas Rio 2016 tinha potencial de mudanças para melhor. gestão urbana. “Não tem sido praticado de forma sistemática e contínua um planejamento que, de fato, integre as ações dos diversos níveis institucionais, os meios de transportes entre si, tanto física, quanto operacional e tarifariamente, e nem a política de transportes é articulada à política de uso do solo, com destaque para a política de habitação e para a falta de controle da mobilidade das empresas que escolhem sua localização sem considerar a capacidade das facilidades urbanas instaladas na área escolhida e depois pressionam o governo para ampliá-las, sem a necessária contrapartida por sua decisão privada afetar a vida pública”, destaca o texto. Sem planejamento, os congestionamentos se multiplicam e derrubam a qualidade de vida. Deslocamentos demorados têm impacto direto na produtividade e, consequentemente, no crescimento econômico. Com um olhar mais amplo, o documento lembra que impactou diretamente, também, a política econômica que facilitou a compra de automóveis. “Essa decisão, associada à falta de investimentos e de política de transporte coletivo, tem feito com que, na maioria das cidades brasileiras, a lógica do transporte individual predomine”, afirmam os autores. Pacto pela mobilidade Segundo o texto da proposta, mais que vontade política, o problema da mobilidade não poderá ser resolvido se não houver um amplo pacto “sob a liderança do setor público em diversos níveis, envolvendo os usuários das diferentes redes de transporte urbano, o setor empresarial e os trabalhadores que produzem tais serviços, dada a rapidez com que o mundo se transforma e a importância da mobilidade urbana nessa transformação”. Foi nesse sentido que o grupo de trabalho reuniu dados e informações buscando colocar o Clube de Engenharia na construção dessa articulação, com propostas de elementos mínimos para uma política de transportes e de circulação de pessoas e bens para a cidade. Entre as propostas estão a otimização da integração tarifária e operacional entre os diversos modos de transporte; a revisão das atribuições de órgãos municipais, buscando de forma clara a responsabilidade de cada um no processo, sempre visando toda a Região Metropolitana; o estabelecimento de um processo permanente de planejamento estratégico, tático e operacional para os transportes; e a criação de mecanismos para o estabelecimento de tarifas justas. O acesso ao documento pode ser feito pelo link http://bit.ly/prop_ mobilidade 3