Jornal do Clube de Engenharia 583 (Outubro de 2017) | Page 12

www.clubedeengenharia.org.br MERCADO Engenharia é uma das áreas mais atingidas pela crise Um drama que atinge universidades, profissionais e também empresários com histórias de décadas à frente de companhias bem sucedidas no mercado e que hoje não conseguem vislumbrar luz no fim do túnel. Francis Bogossian, ex-presidente do Clube de Engenharia e presidente da Academia Nacional de Engenharia (ANE), desabafa: “É triste demais ter que demitir funcionários eficientes, competentes, honestos por falta de opção. Vejo ir embora pessoas que foram alunos, que trabalham conosco há muitos anos. Não é fácil”. Presidente do Conselho Consultivo da Associação de Empresas de Engenharia do Rio de Janeiro (AEERJ), Francis vive na pele a crise e seus reflexos no mercado, tanto na direção da empresa Geomecânica quanto no trabalho associativo. “A situação é péssima. Enquanto os empregos desaparecem e as empresas são paralisadas, a AEERJ enfrenta o desligamento de suas associadas” lamenta. Segundo Francis, o ramo da construção pesada, na área de infraestrutura e montagem, perdeu 37,2% de seus postos de trabalho no Brasil. “No Rio de Janeiro, o cenário é ainda pior; cerca de 51,6% dos postos de trabalho desapareceram. Não vejo expectativas de saída se desenhando no horizonte para essa crise que só esse ano já fez fechar as portas de 8.151 empresas”, concluiu desesperançoso. divulgação\dezembro À medida que a crise se agrava, o mercado segue cada vez mais sufocado. Situação dos profissionais no país é dramática “Empreendimento que consumiu grande volume de recursos, o Comperj está paralisado. Milhares de trabalhadores foram demitidos. Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho e Emprego (Caged/TEM), elaborados pelo Departamento Intersindical de Geografia Estatística (Dieese), até outubro de 2016, foram demitidos 39.069 engenheiros e 24.253 foram admitidos. No ano anterior, 2015, 54.731 engenheiros foram desligados, contra 35.890 admitidos. Ainda segundo o Dieese, o impacto da crise econômica no mercado como um todo foi forte e acelerou o processo de extinção de postos de trabalho. De uma taxa de 6% a 7% de desemprego aberto – aquele em que os indivíduos não trabalham, mas procuram ser recolocados no mercado –, o país chegou a 12% em apenas dois anos. Os cálculos são que cerca de cinco milhões de pessoas estejam desempregadas. Se os números levarem em conta aqueles que Clube de Engenharia Fundado em 24 de dezembro de 1880 [email protected] [email protected] www.clubedeengenharia.org.br 12 sobrevivem com empregos informais e “bicos”, as estatísticas apontam de 18 a 20 milhões de brasileiros desempregados. Murilo Pinheiro, presidente licenciado da Federação Nacional dos Engenheiros, registra que para cada profissional do setor sem emprego existem pelo menos outras 30 pessoas inativas – o que equivale a 1,5 milhão de pessoas. E levantamento do jornal O Estado de São Paulo, informa que mais de 5 mil obras foram paralisadas em todo o país, totalizando um investimento de mais de R$ 15 bilhões. O setor da construção civil é um exemplo do que é realidade hoje: em todo o Brasil foram perdidos 32,5% dos postos de trabalho na área. Eram 325 mil carteiras assinadas em junho deste ano. Hoje, são 189 mil. Com suas peculiaridades e seu papel estratégico no desenvolvimento nacional é consenso que a engenharia SEDE SOCIAL Edifício Edison Passos - Av. Rio Branco, 124 CEP 20040-001 - Rio de Janeiro Tel.: (21) 2178-9200 Fax: (21) 2178-9237 vive a mais séria crise da sua história. Empresas de capacidade reconhecida dentro e fora do país estão paralisadas graças a processos jurídicos que as impedem de trabalhar. Grandes empreendimentos que não só empregavam, mas faziam avançar em tecnologia e métodos a engenharia brasileira, como as obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), Angra III, a transposição do Rio São Francisco e o submarino de propulsão nuclear, empreendimentos que já consumiram enorme quantidade de recursos públicos, hoje estão paralisados ou correm sérios riscos. A estratégia escolhida pelo judiciário, de penalizar a empresa vem surtindo efeito devastador e destruindo décadas de construção lenta e trabalhosa de um arcabouço teórico e prático necessário para o desenvolvimento nacional. O mesmo não ocorre em outros países. Na Alemanha, por exemplo, quando foi descoberto que a Volkswagen fraudou dados de poluição dos seus carros, uma multa foi aplicada e dirigentes da empresa foram presos ou demitidos. No Brasil, não só os dirigentes são culpabilizados, mas a própria empresa. Com obras suspensas e a impossibilidade de novos contratos, o desemprego desenha hoje um dos mais cruéis cenários do Brasil. Situação inimaginável em um país posicionado entre as dez maiores economias do mundo. UNIDADE ZONA OESTE Estrada da Ilha, 241 Ilha de Guaratiba Telefax: 2410-7099