Jornal do Clube de Engenharia 577 (Abril de 2017) | Page 2
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EDITORIAL
A privatização do Satélite da Telebrás:
mais uma ameaça à nossa soberania
Na esteira de reformas feitas na surdina, sem
participação da sociedade, a privatização do
satélite da Telebrás é mais uma iniciativa de
delegar ao mercado soluções que deveriam
provir da política pública de inclusão digital. E o
mercado, entenda-se, as prestadoras de serviços
de telecomunicações, já deixou claro que não
tem interesse em inclusão digital pois, desde
que aquelas empresas, há 20 anos, assumiram os
serviços prestados pela Embratel, apenas 16% dos
domicílios das classes D e E e 22% de domicílios
rurais têm acesso à internet. Apesar disso, o
governo esboça mais um movimento de entrega
das comunicações nacionais ao mercado, deixando
de lado os indispensáveis requisitos de soberania,
segurança e atendimento social.
Atualmente cerca de 50 satélites oferecem
serviços no território nacional, todos pertencentes
a empresas multinacionais. Não é de hoje que
as nossas Forças Armadas clamam por dispor
de canal próprio para seu tráfego de dados,
por questão de segurança. Para atendê-las foi
concebido o projeto do Satélite Geoestacionário
de Defesa e Comunicações (SGDC) da Telebrás.
Mais ainda, buscou-se também atender a
objetivos sociais, de modo a levar a internet a
escolas, hospitais e repartições públicas.
O SGDC, a ser lançado nos próximos dias, corre
risco de ter sua finalidade desfigurada, pois o
governo pretende licitar 80% da sua capacidade
para empresas multinacionais e terceirizar a sua
operação. Não restará capacidade sequer para
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ativar internet nas escolas rurais e em periferias de
grandes cidades. Mais ainda, a licitação proposta
embute uma fraude, pois a Telebrás, quando
da autorização para desenvolver o SGDC,
ganhou o direito de explorá-lo sem licitação,
por valor simbólico, com a condicionante de
atender ao Plano Nacional de Banda Larga
(PNBL), objetivo social. A venda da capacidade
do satélite sem que haja pagamento pela posição
orbital representa uma abdicação do Estado
em estabelecer política pública adequada ao
provimento de serviços de telecomunicações,
uma entrega injustificada de patrimônio público
à iniciativa privada, e um atentado à soberania e
segurança nacionais.
O Clube de Engenharia se soma às manifestações
de repúdio à proposta do governo, provindas,
entre outras, do SINDISAT, Sindicato Nacional
das Empresas de Telecomunicações por Satélite,
para o qual a exploração do SGDC deve se
dar dentro do que estabelece o PNBL, e não
“deveria causar impacto comercial e competitivo”
das comunicações por satélites, já antevendo
uma disputa por mercados e da ABRINT,
Associação Brasileira de Provedores de Internet e
Telecomunicações, para qual o modelo proposto
pela Telebrás é um equivoco por “não ter nenhum
objetivo de atendimento social” e reitera seu
compromisso permanente de defender a soberania
nacional.
A Diretoria
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