Jornal do Clube de Engenharia 577 (Abril de 2017) | Page 12
www.clubedeengenharia.org.br
telecomunicações
Governo prepara medida provisória para dar
respaldo à intervenção na Oi
Embora prefira que acionistas e credores cheguem a um acordo, o MCTIC está elaborando uma MP para permitir
ao Estado assumir todos os serviços, e não só a telefonia fixa, se for preciso agir para evitar a falência da operadora
Os sucessivos fracassos nas
negociações da Oi, maior operadora
de telecomunicações do pais, com
seus credores, aceleram dentro
do governo as providências para
caso seja necessário, como último
recurso, fazer uma intervenção
na empresa. O Ministério da
Ciência, Tecnologia, Inovações
e Comunicações (MCTIC) está
elaborando o texto de uma Medida
Provisória que permita à Agência
Nacional de Telecomunicações
(Anatel) intervir em todos os
serviços prestados pela companhia,
e não só na telefonia fixa, segundo
informações de Márcio Patusco,
diretor técnico do Clube de
Engenharia e presidente do
Conselho Consultivo da agência.
“O objetivo da MP é garantir que a
Anatel tenha todos os mecanismos
e ferramentas para intervir na Oi,
na hora adequada, e em todos
os serviços”, diz. O processo de
recuperação judicial da empresa
estende-se desde junho de 2016, sem
acordo entre acionistas e credores. De
uma dívida total de R$ 65,4 bilhões,
a maior parte, ou cerca de R$ 30
bilhões, está em mãos de bancos e
fundos internacionais, principalmente
dos EUA e da Europa.
A estes grupos o empresário Nelson
Tanure, dono da Société Mondiale,
segunda maior acionista, com 6,3%,
depois do grupo português Pharol,
com 22,2%, tem acusado na imprensa
de serem “fundos abutres”. O seja,
fundos internacionais dedicados a
comprar participações de empresas
ao menor preço possível, para obter
rendimentos extraordinários no
futuro – por exemplo, se a companhia
for a falência e um juiz determinar o
fatiamento de seus ativos e operações.
As propostas apresentadas pelos
acionistas aos credores têm se
baseado na troca de Bonds por ações
da companhia – em percentuais
crescentes a cada tentativa de
acordo: de 25% de participação, na
primeira rodada, a 38%, na mais
recente e também recusada. Agora,
segundo Patusco, aguarda-se que os
fundos façam uma contraproposta.
Na opinião do diretor do Clube
de Engenharia, o governo não tem
interesse na intervenção e só deve
fazê-lo se não houver outra opção. “O
maior risco é a decretação da falência”,
diz. “Antes disso, a Anatel teria que
intervir e estabelecer uma forma de
condução da empresa.” Ele observa
que a operadora atende a cerca de 70
Clube de Engenharia
Fundado em 24 de dezembro de 1880
[email protected][email protected]
12
www.clubedeengenharia.org.br
milhões de usuários em todo o país,
com exceção de São Paulo, e é a maior
arrecadadora do setor.
Bens reversíveis
A MP em elaboração no MCTIC,
de acordo com Patusco, pretende
assegurar que essa intervenção possa
ocorrer de forma plena e não apenas
no serviço de telefonia fixa, o único
sob concessão, mas praticamente
indissociável, atualmente, dos
demais. “A fatia mais significativa
dos serviços e do patrimônio da
Oi está associada à concessão
do serviço de telecomunicações,
que se restringe à telefonia fixa,
para a qual a empresa tem, por
lei, uma infraestrutura reversível
à União, isto é, bens que precisam
ser devolvidos ao Estado, caso se
encerre a concessão.” Pelo menos,
essa é a regra da atual Lei Geral de
Telecomunicações, já que uma nova
proposta de Lei do governo para o
setor, aguardando parecer do STF,
acaba com essa obrigação.
“Neste serviço púbico, a Anatel
tem direito de intervir e leiloar
ou dar destino aos bens. Mas
existem muitas outras atividades
SEDE SOCIAL
Edifício Edison Passos - Av. Rio Branco, 124
CEP 20040-001 - Rio de Janeiro
Tel.: (21) 2178-9200 Fax: (21) 2178-9237
na operação da Oi, como satélite,
TV por assinatura, vídeo por
demanda, telefonia celular, toda a
comunicação de dados por banda
larga, não sujeitas à concessão, e que
envolveriam enorme dificuldade
num processo de intervenção”,
explica o diretor do Clu be de
Engenharia. Segundo ele, a Oi
não dá prejuízo e tem operações
robustas, com a qualidade do
serviço preservada. No caso de o
Estado assumir a controle, Patusco
acredita que uma das possibilidades
seria afastar a direção da empresa,
encerrar a concessão e leiloá-la
a outro prestador, ressarcindo
de alguma forma os credores e
acionistas.
Essa solução, contudo, se tornaria
bem mais complexa, avalia o
diretor do Clube de Engenharia,
se aprovado o Projeto de Lei
Complementar 79/16, que altera a
LGT, transformando as concessões
em serviços autorizados, repassando
para as empresas os bens reversíveis
à União – estimados pelo TCU em
R$ 108 bilhões e pela Anatel em
R$ 80 bilhões –, e sem metas de
universalização.
UNIDADE ZONA OESTE
Estrada da Ilha, 241
Ilha de Guaratiba
Telefax: 2410-7099