Jornal do Clube de Engenharia 573 (Dezembro de 2016) | Page 8
www.clubedeengenharia.org.br
pré-sal
“Há a preocupação com a entrada
de energias renováveis, mas,
inverso a isso, o novo Plano de
Gestão da Petrobras a retira dos
biocombustíveis. As empresas
avançam nessa área e a Petrobras se
retira. Ao invés de se esverdear um
pouco como as outras petrolíferas,
deixa os biocombustíveis, área onde
teve um papel histórico no Brasil,
com os aditivos na gasolina. Toda
a logística estava pronta para que
o álcool se expandisse. (...) O fim
da era do petróleo é um argumento
que podemos aceitar. É, no fundo,
o fim da Petrobras, empresa que
contrata no Brasil, promove
cooperação com universidades e
centros de pesquisa, gera empregos
de alto nível na engenharia. De
fato, se substituirmos a Petrobras,
esses empregos vão sumir. Não será
desenvolvida tecnologia no Brasil.
O que vai haver é uma apropriação
do conhecimento já desenvolvido
pela Petrobras. O argumento do
fim da era do petróleo é puramente
ideológico. É a ferramenta para
tirar a Petrobras do jogo.”
Luís Pinguelli Rosa – ex-Diretor da
COPPE
8
“A Petrobras está sendo desmantelada
por meio da venda de ativos por valor
irrisório. Vendeu um dos campos
mais promissores do Pré-Sal, Carcará,
com 2 bilhões de barris. A malha de
gasoduto da Nova Transportadora
do Sudeste, um monopólio
natural, está sendo vendida. A
Petrobras Argentina, a Petrobras
Chile Distribuidora, a Liquigás
Distribuidora, que a Petrobras levou
anos para conseguir entrar nesse
mercado e regular o mercado e gerar
lucro expressivo, também foram
vendidas. A maioria das ações da
Petrobras Distribuidora, a empresa
com melhor fluxo de caixa, a joia
da coroa, está sendo vendida. Os
campos de Baúna e Tartaruga Verde
também, sem nenhuma avaliação. Foi
vendida a Companhia Petroquímica
de Pernambuco. Saiu do mercado
de fertilizantes e cedeu direito de
exploração em água rasa no Ceará,
Sergipe e Rio Grande do Norte.
Desmontar a Petrobras para abrir o
Pré-Sal para empresas estrangeiras é
o objetivo.”
Fernando Siqueira – vice-presidente
da Associação dos Engenheiros da
Petrobras (AEPET)
“A venda de ativos sadios,
rentáveis, a venda de empresas
que não têm passivos, de alta
rentabilidade, representa um
terço da companhia. São 35
bilhões de dólares que pretendem
alienar. A adição do biodiesel no
diesel mineral era de 2%, passou
para 5%, 7% e chegará a 10%
até 2020. A legislação favorece
o crescimento do mercado do
biodiesel no Brasil e eles estão
retirando a Petrobras desse setor,
abandonando um programa
de futuro. Todas as produções
mostram que os combustíveis
fósseis entrarão em declínio.
E a preparação para isso é tirar
a Petrobras do gás natural,
vendendo, inclusive, os gasodutos.
É uma estratégia para tirar da
Petrobras a condição de empresa
integrada. Na cadeia, temos a
exploração, perfuração, produção,
refino, transporte e petroquímica.
Em cada segmento há níveis de
risco e investimento diferenciados.
Tudo isso define o porte da
empresa.”
Ricardo Maranhão, ex-vereador e
ex-deputado Federal
“É possível reduzir a dívida
da Petrobras sem realizar os
desinvestimentos em fertilizantes,
refinarias, gasodutos etc. previstos
no Plano Estratégico 2017-2021,
de 16,5 bilhões de dólares. Existem
alternativas soberanas para reduzir
o custo de capital da companhia
sem privatizar. É possível preservar
todos os ativos da Petrobras e não
antecipar a redução da alavancagem
se a meta de 2018 for ajustada de 2,5
para 3,1, alcançando 2,5 até 2021.
(...) É possível buscar alternativas
soberanas para reduzir o custo do
capital, garantir os investimentos
requeridos para o desenvolvimento
e a segurança energética nacional e
preservar o patrimônio, a integração
corporativa e o mercado da
Petrobras. A conversão de dívidas
com bancos públicos em capital da
companhia, empréstimos no Banco
de Desenvolvimento dos BRICS
e a renegociação dos prazos para
exploração junto à Agência Nacional
do Petróleo e Biocombustíveis
(ANP) são ferramentas que podem
ser usadas.”
Felipe Coutinho – presidente da
Associação dos Engenheiros da
Petrobras (AEPET)