Jornal do Clube de Engenharia 573 (Dezembro de 2016) | Page 7
DEZEMBRO DE 2016
“Quem compra ações da Petrobras
precisa saber que é uma sociedade
de economia mista. O governo
controla. Alguém que compra
ações da Petrobras jamais
mandará nela. O minoritário tem
que ser ouvido, sugerir medidas,
mas não tem acordo de acionista
para controlar a empresa. Ele
compra não a ação, mas um
título da dívida pública porque a
Petrobras jamais vai quebrar. É
um investimento de segurança.
Acionista da Petrobras somos
todos nós, o povo brasileiro. Seus
recursos vieram do orçamento
da União. Nós pagamos. Ela
não adquiriu nada que possui
vendendo ações em bolsa. Nós
somos os acionistas da Petrobras.
(...) O projeto apresentado por
José Serra com a desculpa de
proteger a Petrobras, propõe a
retirada da obrigatoriedade como
operadora do modelo de partilha.
Ali foi destruído o modelo.
Ele não teve força política para
revogar de vez. Então, destrói aos
pedaços.”
Gilberto Bercovici, Professor da
USP
“Construir um monopólio é difícil.
Desmanchar é ainda mais. Não
pode ser feito a toque de caixa
para resolver problema financeiro.
Tem que ter estudos. Mas querem
vender rápido, de qualquer jeito,
para ter a segurança do ato jurídico
perfeito e acabado. As pessoas não
questionam e a vida segue. Uma
coisa é o controlador do Bradesco, o
maior banco privado do Brasil, sair
e entrar outro. É mera substituição
de agente econômico. Não é o caso
da Petrobras. Estamos entregando
uma rede de estrutura monopolística
para a iniciativa privada. Isso faz
surgir um monopólio privado,
colocando em risco a soberania
energética nacional. Esse é um risco
coletivo e difuso. (...) O CADE
determinou que o mercado é de
gasodutos, mas não é verdade. É um
mercado de infraestrutura de energia.
O que está sendo vendido é uma
chave para fechar um esquema de
assenhoreamento de infraestruturas
de distribuição de energia. O grupo
Brookfield tem controle acionário
em 77 empresas de energia no Brasil,
contando com hidrelétricas, redes
de transmissão, concessionárias
de energia. Agora querem o duto
de transporte de gás. Dominar a
infraestrutura de energia elétrica e
gás, mas parece que ninguém viu isso
no CADE.”
Arthur Villamil da Neves & Villamil
Advogados Associados
“O caso de Mauá é um precedente
interessante para entender o que
acontece hoje com a Odebrecht,
que é a principal representante
da capacidade do patrimônio
tecnológico que nós acumulamos
em matéria de engenharia
nacional. Ela é também a grande
parceira do governo em matéria de
tecnologia para a defesa nacional.
Será liquidada, como Mauá foi
liquidado, muito mais por suas
virtudes que por seus defeitos.
(...) À beira de nos tornarmos
a quinta principal economia do
mundo, vem um golpe de muitos
lados que pode nos derrotar por
meio século e impedir nossa
caminhada de sucesso em direção
a uma sociedade mais digna,
mais correta, mais aparelhada, à
altura das riquezas minerais de
que somos proprietários naturais.
É essa ambição desenfreada dos
conglomerados pelo monopólio
dos minerais no mundo inteiro
que está por trás disso. Iremos
resistir.”
Ceci Juruá, economista
“Nas sociedades periféricas está
sempre presente a ideia de que
o principal inimigo não vem de
fora, mas sim de um grupo interno
que disputa o poder. E a ideia de
identidade nacional vai por água
abaixo. Há uma fragmentação
política e uma grande dificuldade
de gerar consensos, uma unidade
nacional. O petróleo tem um caráter
econômico fundamental e do ponto
de vista estratégico militar. Aos
Estados Unidos interessa jogar o
preço do petróleo para baixo. Para
eles, o custo de algumas empresas
quebrarem ou algumas jazidas não
serem exploradas é muito menor
que o ganho político e estratégico: a
Rússia e Venezuela com problemas
econômicos, nosso Pré-Sal podendo
ficar inviável. Enfim, atingem
seus potenciais rivais e causam
problemas nas suas alianças que
visam promover uma ordem mais
multipolar. (...) Para os países que
vivem queda significativa da receita,
apontam sempre a mesma saída:
privatização de ativos estatais
e entregar para o investimento
estrangeiro. (...) Precisamos de
um Estado que tenha prioridades
estratégicas. A saída é política e
passa por chegar ao poder com um
projeto que seja comprometido com
o desenvolvimento autônomo e não
faça concessões perigosas.”
Raphael Padula – professor da
Universidade Federal do Rio de Janeiro
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