Jornal do Clube de Engenharia 572 (Novembro de 2016) | Page 4
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CIDADANIA
A aproximação com o Clube
acontece em momento decisivo
para o país, que tem exigido foco,
muito debate e ações concretas
para fortalecer a luta pela soberania
nacional. O momento delicado
vem, inclusive, quebrando tradições
dentro do Centro Celso Furtado.
“Vivemos momentos em que a
questão política é tão decisiva que,
que mesmo não sendo tradição
do Centro, sempre voltado para a
economia, estamos participando
de eventos como o que ocorreu dia
7 de novembro, na Universidade
Federal Fluminense (UFF) sobre
o futuro da democracia no Brasil.
Pretendemos também promover
um seminário no ano que vem
sobre a questão da corrupção,
que merece um estudo mais
aprofundado e criterioso. Temos
uma linha fundamental mais ligada
ao desenvolvimento econômico,
mas na concepção do Celso
Furtado o desenvolvimento é
multidimensional: econômico, mas
político, social, cultural etc. Estamos
profundamente preocupados com os
rumos do país”, declarou Saturnino.
A proximidade física e a afinidade
de propostas e ideais com a
entidade parceira deve exercer papel
fundamental no aprofundamento
dessas questões. Por muito tempo,
isso aconteceu no BNDES.
“Embora reconheçamos tudo que o
BNDES fez por nós, essa afinidade
se desfez. Hoje, essa identidade de
ideias e propósitos é muito maior
com o Clube de Engenharia do que
com a nova direção do BNDES”,
finaliza Saturnino.
Roberto Saturnino Braga, ex-senador da República, conselheiro do Clube de Engenharia e presidente
do Centro Celso Furtado
O lançamento internacional do Centro
Em setembro de 2005, o projeto do Centro Celso Furtado foi apresentado aos participantes da Conferência de Helsinque, na Finlândia.
O manifesto de lançamento além de nortear as perspctivas de ações, resume os princípios e objetivos do Centro Celso Furtado, e conclui:
“A biografia de Celso Furtado é uma demonstração da coerência
entre sua obra intelectual e executiva. Furtado teve participação
essencial na criação e na operação de instituições de grande
influência na história dos esforços pelo desenvolvimento autônomo
e equitativo dos países da América Latina. Nos anos 1950, como
diretor da Divisão de Desenvolvimento Econômico da Comissão
Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) contribuiu
para a formação e consolidação da capacidade técnica de vários
governos latino-americanos.
O seu legado intelectual é profundamente atual. Em que pesem as
transformações por que passam as economias e sociedades da região
persistem fortalecidas por uma globalização em muitos sentidos
perversa, as tendências que ele almejava alterar por meio da ação
transformadora da política. As assimetrias entre “centro” e “periferia”
que ele sempre apontou persistem: uma enorme inferioridade
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produtiva e tecnológica, uma enorme vulnerabilidade externa e um
enorme subemprego, cujos efeitos sobre a pobreza e distribuição de
renda não podem ser minimizados.
Por certo, a agenda desenvolvimentista tem que ser mudada,
adequando-se às condições de hoje, que são outras. Afinal,
nossas economias estão abertas e a capacidade financeira do
Estado é menor. Mas persiste a necessidade de contar com um
Estado que apoie o crescimento, o progresso técnico, o aumento
da produtividade e da competitividade, uma melhor inserção
internacional e menor vulnerabilidade externa, e uma estratégia
de crescimento que contemple a sociedade como um todo, e que
integre crescimento e redistribuição de renda. O trabalho intelectual
de Furtado tem profunda atualidade, e o Centro que está sendo
criado terá a enorme responsabilidade de dar prosseguimento a seu
exemplar trabalho”.