Jornal do Clube de Engenharia 571 (Outubro de 2016) | Page 2

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Soberania ameaçada

O anunciado Plano Estratégico da Petrobrás para o período 2017 / 2021 propõe drástica redução da alavancagem da empresa com o objetivo de “ acelerar a sua recuperação financeira no menor prazo possível ”. Trata-se , na verdade , de proposta conveniente para justificar o desmonte e a redução da Petrobrás à condição de mera produtora de óleo bruto e de gás , não integrada , nem verticalizada . É inegável que a Petrobrás enfrenta crise decorrente da queda de cerca de 60 % nos preços do petróleo desde meados de 2014 , o que afeta o seu faturamento ; da volatilidade do câmbio , o que afeta o seu endividamento externo ; do represamento do preço de venda dos combustíveis até 2015 , o que fez sangrar seu caixa ; e da ação dos escroques que a saquearam , o que afeta a sua credibilidade . Soma-se ao grave quadro econômico a instabilidade política . Neste contexto , a direção da empresa , a partir da gestão anterior , passou a cortar despesas de custeio ( pela renegociação de contratos e redução de funções gerenciais , por exemplo ), e a postergar ou eliminar investimentos . Dispôs-se também a colocar à venda , com critérios discutíveis , parte de seus ativos , muitos deles estratégicos para uma empresa de petróleo integrada . Exemplo disto é a venda por preço vil à empresa norueguesa Statoil da sua participação no campo de Carcará , um dos melhores dentre os descobertos no Pré-Sal . Não se trata aqui de criticar desinvestimentos em si , pois tal como os investimentos , são recorrentes na indústria do petróleo . Critica-se , sim , a venda do que é estratégico para o futuro da Petrobrás . A Statoil já anunciou ao mundo que o Brasil passou a ser o seu foco prioritário e , para desenvolvê-lo , não necessitará da empresa . A visão equivocada da direção da Petrobrás , mais uma vez , não atende ao interesse dos seus acionistas , pois deprecia o valor dos seus ativos . Por que não se desfazer dos ativos no exterior , adquiridos antes da descoberta do Pré-Sal ? O maior ativo da Petrobrás , associado à competência de seu quadro técnico , responsável pelas suas reservas de óleo e de gás , é o mercado interno brasileiro , onde
SEDE SOCIAL Edifício Edison Passos Av . Rio Branco , 124 CEP 20148-900 Rio de Janeiro - RJ Tel .: ( 21 ) 2178-9200 Fax : ( 21 ) 2178-9237 a empresa investiu bilhões de reais na construção de oleodutos , gasodutos , terminais , fertilizantes , petroquímica e retalho de combustíveis . Vender ou abrir participação nesses bens é destruir a integralidade do sistema industrial da empresa e sacrificar a sua sustentabilidade em longo prazo , o que implicará perda do seu valor de mercado . O plano corta em 25 % os investimentos programados e concentra os dispêndios na área de produção de óleo e de gás , reduzindo ao mínimo a atividade exploratória . E o abandono da exploração é a véspera da queda na produção . Não fosse o excelente desempenho no Pré-Sal , que já é responsável por mais da metade da produção nacional , a situação seria ainda mais alarmante , pois estaríamos a importar hoje cerca de 400 mil barris de petróleo por dia . Apesar de reconhecer a eficiência operacional da empresa , o plano traz como consequência a sua fragilização . Propõe continuar a reduzir pessoal , através de Planos de Demissões Voluntárias , o que , acoplado à suspensão de novos concursos - providência indispensável para a preservação da memória técnica da empresa - a deixará mais e mais dependente de prestadoras de serviços contratadas . E parcerias supostamente estratégicas apenas capacitam os parceiros a se apropriarem dos conhecimentos tecnológicos adquiridos pela empresa ao longo da sua história . Acresça-se a este quadro as reiteradas declarações do presidente da Petrobrás minimizando a importância do Pré-Sal , a maior reserva descoberta no mundo nos últimos 30 anos . Depreciar esse ativo , ainda que , por absurdo , o objetivo seja vendê-lo , não atende aos interesses dos acionistas da empresa , do povo brasileiro e do País . Torna-se , pois , evidente que a atual direção da Petrobrás não age em benefício dos seus acionistas , nacionais e estrangeiros . Amesquinhar o papel da empresa não é o melhor caminho para que dê bons dividendos . Trata-se , em síntese , de gestão temerária .
A Diretoria

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