Jornal do Clube de Engenharia 571 (Outubro de 2016) | Page 3

ENERGIA Construindo um futuro sustentável Impulsionar o mundo para um horizonte sustentável só será possível com ciência, tecnologia e inovação. Neste contexto, a energia nuclear tem papel de protagonismo. Da década de 1940 para cá, o mundo tem se dividido entre os que guardam um medo irracional de qualquer coisa relacionada à energia nuclear e aqueles que buscam evidenciar a sua importância para o mundo e seu desenvolvimento. “A revolução provocada pela energia nuclear ainda não aconteceu, mas desde a descoberta da fissão nuclear na década de 1930, as aplicações pacíficas da tecnologia nuclear têm ajudado a melhorar a produtividade agrícola, combater pragas, diagnosticar e tratar doenças, proteger o meio ambiente e garantir fornecimento contínuo de energia elétrica.” A afirmação é de Leonam dos Santos Guimarães, presidente da Seção Latino Americana da Sociedade Nuclear Americana e diretor de Planejamento, Gestão e Meio Ambiente da Eletronuclear, em palestra no dia 29 de setembro, no Clube de Engenharia. A apresentação tratou de um esforço prático que acontece no âmbito das Metas do Milênio. Estabelecidas em setembro de 2015 pela Organização das Nações Unidas (ONU), as metas são parte de um acordo firmado que estabelece objetivos a serem perseguidos para garantir, nos próximos 15 anos, o desenvolvimento sustentável em todo o mundo. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), organização autônoma da ONU que se dedica à promoção, fomento e organização da cooperação internacional em Foto: Fernando Alvim Leonam dos Santos Guimarães deu ênfase às aplicações pacíficas da tecnologia nuclear torno do uso pacífico da tecnologia nuclear, ciente de que poderia contribuir para que algumas das metas fossem alcançadas, passou a trabalhar na divulgação da energia nuclear como indutora do desenvolvimento. Membro do Grupo Permanente de Assessoria do Diretor-Geral da AIEA, Leonam apresentou a contribuição da energia atômica como ferramenta segura na construção do futuro. Entre as 17 metas estabelecidas pela ONU, nove podem ser perseguidas de forma mais eficiente com a ajuda da energia atômica. Entre elas está a “Fome Zero”: o uso de aplicações nucleares na agricultura tem como foco a melhoria da produtividade, e a melhoria na variedade de grãos, ajudando a garantir a segurança alimentar. Outra meta – “Saúde e bem-estar” – tem interface com a medicina nuclear, que tem um papel decisivo em diagnósticos e no tratamento de diversas doenças. “As técnicas existem. O desafio é ampliar o acesso a essas técnicas e, neste ponto, o Brasil vai mal. Em termos de procedimentos de medicina nuclear por habitante, os índices são inferiores à metade dos registrados na Argentina. Temos um longo caminho a percorrer para alcançar esse objetivo do milênio”, destacou Leonam. “Água limpa e saneamento”, “Vida nas águas”, “Vida na terra” e “Parcerias para o progresso” também foram identificados como objetivos sobre os quais a energia nuclear pode ajudar. As metas relacionadas à energia, obviamente, tem na tec nologia nuclear um apoio importante. São três os Objetivos do Milênio que tratam do setor: o combate às mudanças climáticas, a universalização do acesso, a modalidade tarifária e, o mais importante, o aumento do consumo per capita da energia elétrica. “Neste quesito, o Brasil está abaixo da média mundial. É menor que o Uruguai, Argentina, Chile. Não falamos do consumo residencial. É muito mais que isso. Problemas relacionados ao transporte urbano e saneamento básico, por exemplo, só podem ser solucionados através do consumo de eletricidade”, destaca Leonam. Obstáculos e desinformação A tecnologia, à medida que avança, traz problemas e soluções, usos positivos e negativos de novos conhecimentos. Debates sobre a tecnologia como culpada ou salvadora são constantes e a energia nuclear é pivô desses debates. Segundo Leonam, a oposição que a energia nuclear encontra é esperada e esse desafio precisa ser enfrentado. “Trata-se de uma tecnologia que foi apresentada ao mundo por meio de uma arma e isso cobra seu preço até hoje. Está fixada na mente das pessoas e o medo é passado de geração para geração. Neutralizar o medo que a bomba, a radiação e a contaminação causam nas pessoas é o nosso desafio para que a energia nuclear venha a motivar essa nova revolução industrial. É um trabalho difícil, mas vai ficando mais fácil à medida que as gerações vão se sucedendo. Os jovens hoje estão mais dispostos a escutar os mais velhos e isso nos dá esperança” conclui. Leia mais: https://goo.gl/JCrT5e 3