Jornal do Clube de Engenharia 562 (Janeiro de 2016) | Page 3

JANEIRO DE 2016 tecnologia Foto: Telebras/Divulgação Satélite vai garantir maior segurança na transmissão de dados O SGDC está sendo construído pela Thales Alenia Space com transferência de tecnologia para a Visiona, empresa da Embraer e Telebras. Quando um telefonema é realizado ou um e-mail é enviado do Rio de Janeiro para a Europa, África ou Ásia, os dados viajam até encontrar satélites e são retransmitidos. Toda a comunicação sigilosa, de governo e militar, faz o mesmo caminho. Quando um submarino recebe ordem do comando da Marinha, ou quando a Presidência da República entra em contato com o governo do país vizinho, os dados viajam até a órbita da Terra, encontram um dos 36 satélites autorizados a comercializar a capacidade espacial no país e são transmitidos de um ponto a outro. São todos satélites de empresas estrangeiras ou multinacionais instaladas no Brasil. Nem sempre foi assim. Até a privatização do Sistema Telebras, em 1998, o país possuía satélites nacionais. Após a venda do sistema, esses satélites passaram para as mãos da americana MCI e, posteriormente, para a Telmex, do México. Esse panorama começou a mudar em 2010, quando a Telebras saiu do estado letárgico no qual se encontrava para se tornar uma das principais ferramentas do país nos avanços planejados para a área das telecomunicações. O Decreto nº 7.175/2010, que instituiu o Programa Nacional de Banda Larga (PNBL), determinou que cabe à Telebras implementar a rede privada de comunicação da administração pública federal, apoiar políticas públicas em banda larga e promover infraestrutura e redes de suporte a serviços de telecomunicações. Foi dentro desse contexto que a empresa assumiu o audacioso projeto de colocar em órbita o Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC), o satélite brasileiro. Novo momento Com lançamento previsto para o final de 2016, o satélite faz parte dos planos da Telebras para reforçar a segurança na transferência de dados no país e aquecer os setores de tecnologia de ponta. “A Telebras deve atuar como fomentadora da tecnologia nacional, através de seus projetos, fazendo uso da legislação vigente que privilegia a indústria nacional em nossas compras de equipamentos e sistemas.” A declaração é do associado Jorge Bittar, presidente da Telebras, em encontro no Clube de Engenharia. O primeiro satélite nacional está sendo construído pela empresa Thales Alenia Space sob a supervisão da Visiona Tecnologia Espacial, uma joint-venture entre a Embraer e a Telebras responsável pela absorção da tecnologia. A ideia é que, além de capacitados para operar o satélite, os técnicos brasileiros possam desenvolver outros projetos espaciais. Uma das críticas ao projeto é a pequena participação de conteúdo nacional na construção do satélite. Segundo Marcio Patusco, diretor de Atividades Técnicas e subchefe da DETI, o conteúdo nacional é insignificante no projeto. “A indústria brasileira tem mais de 30 anos de experiência e poderia estar sendo fornecedora de componentes e sistemas. Aparentemente, a urgência que o projeto passou a ter forçou decisões que impactaram os prazos de integração com participação dos diversos fornecedores nacionais”, lamenta Patusco. O diretor aponta, no entanto, que há previsão para sequência de projetos e que o fortalecimento da indústria nacional virá. “Os índices de conteúdo nacional nos próximos satélites serão gradualmente aumentados”, avalia Patusco. Na corrida tecnológica pela soberania nas comunicações, o Brasil ficou para trás. “Depois do acidente da base de Alcântara, em 2003, o projeto brasileiro de lançamento de satélites teve um atraso significativo e até hoje não se recuperou integralmente. No entanto, já existe a intenção de no próximo satélite da Visiona, previsto para 2019, haver um aumento significativo de conteúdo nacional”, reforçou Patusco. O SGDC será lançado pela empresa Ariane Space, na Guiana Francesa, e ficará posicionado a uma distância de 35.786 quilômetros da superfície da Terra. Pesando 5,6 toneladas, com vida útil superior a 15 anos, o satélite será operado pelo Centro de Operações (COPE) em Brasília e no Rio de Janeiro. Além de assegurar sigilo e segurança para as telecomunicações do governo, a banda Ka do satélite, cerca de 75% de sua capacidade, também terá uso comercial para a Telebras dentro do escopo do Programa Nacional de Banda Larga. O satélite levará internet de alta velocidade a cerca de 2.000 municípios em locais remotos, onde não chega a rede de fibra ótica da Telebras e onde não há interesse financeiro de empresas privadas em levar o serviço. A comunicação militar ficará alocada na banda X, frequência que corresponderá a 25% de capacidade do satélite. A área de cobertura abrange América do Sul, Atlân