Goiânia, Março / Abril de 2018
SOBRE OS FELIZES...
Existem pessoas admiráveis andando em passos
firmes sobre a face da Terra. Grandes homens,
grandes mulheres, sujeitos exemplares que superam
toda desesperança. Tenho a sorte de conhecer vários
deles, de ter muitos como amigos e costumo obser-
var suas ações com dedicada atenção. Tento com-
preender como conseguem levar a vida de maneira
tão superior à maioria, busco onde está o mistério,
tento ler seus gestos e aprendo muito com eles.
De tanto observar, consegui descobrir alguns
pontos em comum entre todos e o que mais me
impressiona é que são felizes. A felicidade, essa
meta por vezes impossível, é parte deles, está
intrínseco. Vivem um dia após o outro desfrutando
de uma alegria genuína, leve, discreta, plantada na
alma como uma árvore de raízes que força nenhuma
consegue arrancar.
Dos felizes que conheço, nenhum leva uma vida
perfeita. Não são famosos. Nenhum é milionário,
alguns vivem com muito pouco, inclusive. Nenhum
tem saúde impecável, ou uma família sem proble-
mas. Todos enfrentam e enfrentaram dissabores de
várias ordens. Mas continuam discretamente felizes.
O primeiro hábito que eles têm em comum é a
generosidade. Mais que isso: eles têm prazer em
ajudar, dividir, doar. Ajudam com um sorriso imenso
no rosto, com desejo verdadeiro e sentem-se bem o
suficiente para nunca relembrar ou cobrar o que foi
feito e jamais pedir algo em troca.
Os felizes costumam oferecer ajuda antes que se
peça. Ficam inquietos com a dor do outro, querem
colaborar de alguma maneira. São sensíveis e
identificam as necessidades alheias mesmo antes de
receber qualquer pedido. Os felizes, sobretudo,
doam o próprio tempo, suas horas de vida, às vezes
dividem o que têm, mesmo quando é muito pouco.
Eu também observo os infelizes e já fiz a contra-
prova: eles costumam ser egoístas. Negam qualquer
pequeno favor. Reagem com irritação ao mínimo
pedido. Quando fazem, não perdem a oportunidade
de relembrar, quase cobram medalhas e passam o
recibo. Não gostam de ter a rotina perturbada por
solicitações dos outros. Se fazem uma bondade
qualquer, calculam o benefício próprio e seguem
assim, infelizes. Cada vez mais.
O segundo hábito notável dos felizes é a capa-
cidade de explodir de alegria com o êxito dos outros.
Os felizes vibram tanto com o sorriso alheio que
parece um contágio. Eles costumam dizer: estou tão
contente como se fosse comigo. Talvez seja um
segredo de felicidade, até porque os infelizes fazem
o contrário. Tratam rapidamente de encontrar um
defeito no júbilo do outro, ou de ignorar a boa nova
que acabaram de ouvir. E seguem infelizes.
O terceiro hábito dos felizes é saber aceitar.
Principalmente aceitar o outro, com todas as suas
imperfeições. Sabem ouvir sem julgar. Sabem opi-
nar sem diminuir e sabem a hora de calar. Sobretudo,
sabem rir do jeito de ser de seus amigos. Sorrir é uma
forma sublime de dizer: amo você e todas as suas
pequenas loucuras.
Escrevo essa crônica, grata e emocionada,
relembrando o rosto dos homens e mulheres subli-
mes que passaram e que estão na minha vida,
entoando seus nomes com a devoção de quem reza.
Ainda não sou um dos felizes, mas sigo tentando.
Sigo buscando aprender com eles a acender a luz
genuína e perene de alegria na alma. Sigamos os
felizes, pois eles sabem o caminho...
Socorro Acioli
PERSONAGENS
DE MARÇO E ABRIL
Adalberto Mota