INTERPRESS (Maio, 2015) | Page 47

Interpress Em 26 de abril de 1986, o reator 4 da usina Vladimir Ilyich Lenin, conhecida como a Usina de Chernobyl, explodiu durante um teste à 1 hora e 23 minutos da madrugada, liberando na atmosfera e nos arredores cerca de 440 vezes mais radiação que a bomba atômica lançada na cidade japonesa de Hiroshima, em agosto de 1945. Segundo estimativas de 1995, cerca de 2,3 milhões de pessoas sofreram com as sequelas da contaminação radioativa, sendo 500 mil delas crianças. Ocorreram alterações genéticas de animais e plantas, sendo que as consequências dos lançamentos de substâncias radioativas na atmosfera e no solo causaram também uma considerável perda econômica. Atualmente, 20 anos depois dos estudos supracitados, os tantos números sobre a tragédia continuam a impressionar embora não sejam mais tão precisos. As muitas obras feitas com relatos de sobreviventes e descendentes junto com as muitas campanhas existentes a fim de apaziguar a situação são responsáveis, mais que os Cmus: saiba mais números, por explicitar o que de fato significa fazer parte dessa história. Mas é preciso que a dimensão do desastre seja entendida antes de partir ao contexto psicológico das vítimas. Embora a imprecisão das consequências dê margem ao ceticismo sobre a capacidade que a radicação certamente tem em ser fatal, é importante ressaltar no que implica ser exposto à radiação gerada pela fissão nuclear. A radiação pode provocar basicamente dois tipos de danos ao corpo: a destruição das células com o calor, e a ionização e fragmentação (divisão) das células. Isto é: ou o corpo padece de queimaduras graves por exposição às radiações alfa, deixando a parte externa do indivíduo totalmente danificada, ou sofre alterações celulares como mutações genéticas que podem causar doenças como câncer, no caso de contato com raios beta e gama. Para que fique mais claro em nível quantitativo, os números se valem mais uma vez: uma dose de 1250 millirem (unidade em que é medida a radioatividade), em um curto período de tempo, aumenta em 0,1% as chances de alguém desenvolver um câncer. Uma dose de 500.000 millirem em um espaço igual ou inferior a 5 horas, é fatal. No momento do acidente, Chernobyl liberou 5600 millirem por segundo, ou seja, aqueles que estavam próximos só precisaram de 90 segundos para serem bombardeados com uma dose fatal de radiação. E as medidas práticas de evacuação só iniciaram no dia seguinte. E cerca de 30 pessoas foram mortas por conta da radiação aguda. Os níveis da radiação no local diminuíram 90% ainda no primeiro ano. Hoje, os locais com maiores níveis, alguns pontos da Floresta Vermelha, por exemplo, emitem cerca de 1000 millirem/hora. Não mais que uma ressonância magnética. Por conta disso, há quem pense em deixar o passado no passado e que daqui para a frente o futuro só tem de melhorar a situação do local. Infelizmente, 47 Parte da Usina de Chernobyl. Fotógrafo: Tim Suess