INTERPRESS (Junho, 2019) | Page 39

Dessa forma, foi necessário que o mun- do jornalístico compreendesse as mudanças do seu público em relação à recepção de informa- ção ou estaria fadado a morrer, pois “ninguém mais lê notícias”. O universo digital abriu espaço para subversão da linguagem puramente verbal e valorização da linguagem visual. Compreen- der a semiótica, “a ciência que tem por objeto de investigação todas as linguagens possíveis, ou seja, que tem por objetivo o exame dos mo- dos de constituição de todo e qualquer fenô- meno como fenômeno de produção de signifi- cação e de sentido”(SANTAELLA,2017,p.11) tornou-se essencial, visto que a Linguística, que estuda apenas a linguagem verbal, mos- trou-se insuficiente para o novo público. Ainda que as redes sociais não tenham propiciado apenas o crescimento do jornalismo de dados, afinal foi por meio delas que a infor- mação sofreu um novo processo de democra- tização, esse método de produção de notícias recebeu um grande incentivo para o seu desenvol- vimento. Como destaca Wagner Souza e Silva: “Com a crescente popularização de redes so- ciais específicas para a circulação de imagens fotográficas (não só mais estáticas mas também em movimento), tal como o Instagram, o Fli- ckr e, mais recentemente, o Snapchat, a produ- ção dessas imagens está quase sempre mediada por gadgets conectados, dispositivos que têm a tela como componente fundamental, que inclu- sive suprime a ideia de câmera entendida como uma “caixa” (com raízes etimológicas na câma- ra obscura renascentista)” (Silva, 2014, p. 69). Nota-se, portanto, que a base da comunica- ção nas redes sociais é visual e adaptada ao seu público, composto por pessoas que de- cidem o que querem ou não querem ver. Ou seja, o jornalismo de dados nas redes compreendeu que os tópicos abordados são, muitas vezes, densos e complicados demais para o público amplo e leigo interpretar com facilidade. Assim, para comprir sua função de informar, evoluiu para um formato que prioriza a comunicação visual e a praticida- de de manejo das informações. Por exemplo, o Guia Interativo Sobre Serviços para Ido- sos (Figura 3), montado pelo The Guardian, reflete a preocupação do jornalista em dis- por as informações de modo que sejam fa- cilmente entendidas por um leitor qualquer. Embora os grandes gráficos de dados não sejam muito presentes nas redes sociais, pois não conseguem ser condensados sufi- cientemente ao ponto de tornarem-se leitu- ras rápidas, o jornalismo de dados está se consolidando nelas rapidamente. Há poucos exemplos de páginas que produzem con- teúdo exclusivamente a partir desse méto- do, mas há muitas que o utilizam para uma quantidade considerável de suas postagens. O perfil @aosfatos, no Instagram, é um bom ilustrador. Várias de suas postagens apresen- tam dados importantes sobre a comunidade LGBTQ+, a situação carcerária no Brasil, a legislação sobre armas e vários outros temas polêmicos e densos, sempre usando muitos elementos visuais para facilitar o entendimento e recepção das informações. Em suma, o jornalismo de dados deve crescer e se fortalecer cada vez mais dentro das redes sociais, pois o público consumidor de informações busca praticidade, rapidez e facilidade. A partir dessa transformação di- gital e da percepção que o jornalismo está acompanhando a mudança de realidade, é possível afirmar que, ao menos essa modali- dade não está perto de acabar. O jornalismo não morrerá, afinal, o futuro está nos dados. 39