INTERPRESS (Junho, 2019) | Page 23

da criança começa cada vez mais cedo. As- sim, as crianças começam a ser mais pro- pensas a consumir conteúdo pornogra- fico e se interessar pela sua vida sexual. O problema é que apesar de seus corpos estarem amadurecendo mais rapido, as mentes delas não. E quando começam a con- sumir pornografia precocemente podem en- contrar imagens que ainda não estão pron- tas para ver. Tais como violência, fetiches e o próprio ato sexual, o que pode ser chocante para uma criança. “Dos 6 aos doze anos, nos valemos de conteúdos fantasiosos para enten- der o mundo. Questões tão explícitas assim causam uma confusão de papéis porque as crianças não são maduras o suficiente para en- tender” afirma Bruno Mader, psicólogo do Hos- pital Pequeno Príncipe “Não é legal para elas, não tem nada de positivo.”A personalidade de uma pessoa é quase completamente formada na infância e quaisquer trauma ou choque que a pessoa sofrer nesse período pode se armazenar no subconsciente, podendo tornar-se grandes problemas na fase adulta, tanto sexuais ou até mesmo psicóticos. A pornografia contém muita informação que a mente de uma criança pode não compreender, por isso esse contato precoce é ainda mais perigoso do que em outras fases. A realidade de quem produz o conteúdo pornô A pornografia, além de ser muito prejudi- cial para quem a consome, pode ser ainda pior para quem a produz, em especial para as atrizes. São inúmeros relatos de ex-atrizes que sofreram abuso durante as gravações, sendo submetidas à violência e humilhação desumana, além de se- rem obrigadas a fazerem coisas no filme que não estavam no contrato. Em algumas gravações mais fetichistas elas acabam sendo vítimas de espancamento a ponto de pedirem para parar as gravações por estarem sentindo muita dor, e ainda assim os produtores ge- ralmente continuam gravando. Segundo a Pink Cross Foundation, uma instituição humanitária criada pela ex-atriz Shelley Lubben, a expectativa média de vida das atrizes pornôs é de 36 anos. Essa baixa expectativa pode ser explicada por fatores como o suicídio, o uso de drogas, doenças sexuais e até homicídios que geralmente es- tão vinculados com a carreira de atriz pornô. Nesse sentido, pode-se afirmar que o mercado pornográfico acaba atuando como um mercado violento, sexista e cruel, onde me- ninas, na maioria dos casos, que veem na por- nografia uma fonte de renda, precisam muitas vezes de ajuda psicológica para se livrarem de traumas causados pela carreira. Essa é só uma parte da obscuridade dessa indústria. Além disso, qualquer pessoa que acessar alguns tu- toriais na internet pode ter acesso fácil à porno- grafia infantil. Na rede TOR, que é uma forma criptografada que permite o anonimato na sua navegação, a maior parte dos seus acessos são dedicados a esse tipo de conteúdo criminoso. Desse modo, cada vez que alguém consome um conteúdo pornográfico, essa pessoa acaba alimentando mais essa indús- tria e incentivando que essas práticas cruéis continuem se perpetuando. Portanto, a juven- tude, como principal consumidora essa in- dústria, tem a sua responsabilidade ligada a esses danos. Por isso foi criado o movimento Porn Reboot, que estimula os homens (que é a maior parte do público que assiste esse ma- terial) a pararem de consumir pornografia. Esse movimento tem ganhado força desde 2015 e vem sendo apoiado cada vez mais por tanto homens quanto mulheres na luta con- tra a pornografia, de modo a diminuir casos problemáticos tanto para quem produz o material, quanto para o seu público alvo. A partir dos fatos apresentados, re- afirma-se que pornografia pode ser 23