INTERPRESS (Junho, 2019) | Page 21

porcentagem cai para 27%, equiparando-se com a parcela representada pelos usuários entre 25 a 34 anos. Destaca-se que, como esses estu- dos não consideram os usuários menores de 18 anos como um grupo de amostragem, não há informações divulgadas pelos sites e empre- sas do mercado pornô que indiquem o número de crianças e adolescentes que têm acesso aos seus produtos. Todavia, considerando que o pú- blico infanto-juvenil tem se tornado uma parcela cada vez mais representativa dentre os usuários das novas tecnologias e meios de divulgação, como a televisão e a internet, é possível inferir que se fossem considerados nas pesquisas se- riam uma relevante parcela de consumidores. Há muitos argumentos em defesa da por- nografia. Dentre eles, o de que a ela é uma ferra- menta que proporciona o prazer livre e individu- al, ou ainda para o estímulo sexual com o outro, ou funcionando em alguns casos como “válvula de escape”. Apesar disso, muitos especialistas chamam a atenção para uma série de consequ- ências negativas intrínsecas a essa prática, po- dendo se tornar até mesmo um vício. O psicó- logo e professor da Universidade de Nova York, Thomas Lickona, afirma que esse vício está relacionado com a liberação de dopamina, um neurotransmissor responsável pela liberação de prazer e motivação, que aumenta significativa- mente diante de novidades e estímulos sexuais. Como a pornografia combina esses dois fatores, por apresentar sempre novas mulheres (ou ho- mens, ou transsexuais), em diferentes situações e no contexto sexual, acaba por estimular o cérebro a liberar grandes quantidades de dopamina, cau- sando a necessidade cada vez maior desse con- sumo, tornando-se um vício. Além disso, o uso excessivo de conteúdo pornô pode desencadear problemas físicos, como a disfunção erétil, e tam- bém psicológicos, como a depressão, ansiedade, estresse e fobias sociais, pois começa a prejudicar os relacionamentos do consumidor do mate- rial com os outros indivíduos e as intera- ções dele com o meio em que vive. Espe- cialmente se tratando de relacionamentos, usuários frequentes relatam que sentem dificuldade em se relacionar sexualmente com parceiras reais, pela impossibilidade de sentir o mesmo prazer experimentado vir- tualmente. Conforme Associação America- na de Pediatras, “a pornografia provoca nos jovens uma tendência impessoal e egocên- trica”, devido ao esvaziamento do parceiro como sujeito e a perda da noção de um rela- cionamento que é construído com o outro. A pornografia tem se tornado cada vez mais comum entre os jovens. Imagem: BBC News. Além das consequências para os usuários, a pornografia também está relacionada na perpetuação de padrões de comportamen- to social e opressões que afetam especial- mente as mulheres e os transsexuais, que são mais comumente representados no ma- terial pornográfico. Em muitos casos, as mulheres são caracterizadas como objetos sexuais desumanizados, ou como bens de consumo, em situação de dor, humilhação e submissão, reduzindo a figura femini- na às partes de seus corpos. A partir desse pressuposto, pode-se afirmar que essa prática acaba naturalizando comporta- mentos sexuais abusivos e degradantes. 21