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permitem que seus filhos tenham uma consciência sexual, portanto a gravidez precoce nesse meio é produto de falta de abertura da instituição familiar para o debate sobre a saúde e os direitos sexuais e reprodutivos dos jovens.
É importante salientar que os homens também fazem parte do processo de concepção do filho. Na adolescência, assim como ao longo da vida, existem casos em que eles pressionam suas parceiras para terem uma relação sexual, o que resulta em projeções como as do gráfico a seguir, que evidencia que a maioria das mulheres entre 15 e 19 anos que engravidaram gostariam de ter esperado mais para iniciar sua vida sexual.
Regiões pobres também estão mais suscetíveis a elevados índices de gravidez na adolescência. Uma vez que nessas regiões as mulheres geralmente não têm uma perspectiva voltada para o seu sucesso financeiro, profissional e não vislumbram um futuro melhor, as mesmas cultivam valores conservadores de que sua função na sociedade se restringe a cuidar dos afazeres domésticos e da família. A gravidez é fruto de um meio, tal como de um processo social. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística( IBGE) divulgou uma pesquisa em 2014 que afirma que a região Norte do Brasil registrou a maior incidência de mães prematuras e o sudeste ficou em último lugar no ranking, os dados se relacionam com o Índice de Desenvolvimento Humano( IDH) de cada região.
Regiões onde as condições básicas de vida são melhores tendem a ter menos problemas sociais e facilidade para saná-los de modo eficaz. A gravidez na adolescência interfere intrinsecamente na vida da mulher, que pode ter que abandonar a escola por um determinado período, esquecer seus sonhos e lidar com responsabilidades de um adulto. Também interfere na vida dos responsáveis que em alguns casos serão encarregados de cuidar do bebê, já que os pais são inexperientes. A adolescente também pode sofrer com a depressão pós-parto, distúrbios sentimentais, problemas para manter relacionamentos, falta de confiança nas pessoas, além das

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consequências para o bebê, visto que pode ocorrer um aborto natural pela rejeição da mãe a gravidez.
Os índices de mortalidade infantil ao tratar-se da concepção na adolescência são alarmantes – de cada 10 bebês mortos no Brasil, dois são filhos de pais adolescentes. Todos os dias, nove crianças de até um ano gerados por adolescentes morrem por motivos diversos – dentre eles, destacam-se nascimentos prematuros, falta de atendimento prénatal e desnutrição – onde cerca de 50 % das mesmas provém de famílias negras. A ONU afirma que cerca de 3,9 milhões de abortos inseguros feitos por mulheres entre 15 e 19 anos ocorrem anualmente em países em desenvolvimento, agravando também o quadro de mortalidade materna principalmente na América Latina.
A erotização de crianças é um dos fatores mais influentes para a concretização da gravidez na adolescência e para o abuso sexual infantil. Em sites de pornografia, o termo mais pesquisado entre os usuários é“ teenager”, ou seja, adolescente. Em uma cultura que naturaliza a hipersexualização das meninas não é de se espantar que algumas queiram exercer o papel de mulheres desejáveis que lhes é imposto desde o início da puberdade. A culpabilização da mulher perde o sentido ao analisar-se toda a socialização que leva a uma gravidez desejável ou não durante a adolescência. Deste modo, o infortúnio da gravidez da adolescência deve ser tratado como um problema do meio. O sociólogo Émile Durkheim demonstra o poder da sociedade de influenciar os indivíduos – em outras palavras, para ele a sociedade prevalece sobre as pessoas. Antes de julgar as jovens que passam por essas situações deve-se questionar se o estado oferece a elas suporte para uma família estruturada e uma educação de qualidade, para que assim, valores éticos independentes dos religiosos façam parte da sua formação. O estado é laico, mas será que a sociedade é? Insubordinada a essa pergunta os juvenis devem possuir instruções sexuais, porquanto não há como dissolver um problema ignorando sua ocorrência.

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