Inominável Inominável #13 | Page 13

demónios invasores gigantes, ordenei a construção de pirâmides e expandi as fronteiras do império romano às orlas do mundo conhecido. Vivi isto tudo, mas esqueci-me de viver o resto. Fui-me esquecendo de amigos, da escola, da família e das aventuras normais da adolescência e do início da vida adulta.

Podereis pensar que esta dissertação é uma espécie de desabafo. Não o é. Não agora, pelo menos. Uso o meu exemplo apenas como uma contextualização para que possais compreender a moral deste texto.

Os videojogos não são maléficos, nem no meu caso. Não estou demasiadamente arrependido por ter desperdiçado tanto tempo em entretenimento aparentemente fútil. A verdade é que eu não estava consciente do problema na altura e só agora em retrospectiva é que posso dizer que o meu vício me prejudicou em alguns aspectos da minha vida. Ora, se eu não estava a sabotar-me conscientemente, não sinto que seria justo para comigo próprio culpar-me do sucedido. Nos dias de hoje é que me sinto culpado quando às vezes estou mais do que umas horas a jogar de seguida.

Este não é algum tipo de protesto anti videojogos. Repito, os videojogos não são maléficos, nós é que somos. Nunca ninguém culpou um cigarro pelo vício que ele implica. A mensagem que quero transmitir é que tudo tem um lugar na nossa vida, mas há que haver moderação. Mesmo que tenhamos uma paixão imensa em ganhar a Liga dos Campeões com o Arouca, ou em liderar a Escócia nos seus esforços de colonizar as Caraíbas, ou em destruir o Olimpo e aniquilar os personagens da mitologia grega, nada nos impede de regularmente nos levantarmos para esticar as pernas e talvez ao invés disto tudo ir sim jogar uma partida de futebol a sério com os nossos amigos, ou então organizar uma viagem às terras dos pictos, ou então pegar na marreta e destruir o carro do gajo que nos infernizou a vida no secundário.

Notai, por favor, que o objectivo deste artigo não é tanto o de sensibilizar os que já são viciados em videojogos. O problema fundamental que eu gostaria de relevar são os vossos filhos, sobrinhos, afilhados, primos e eteceteras, que sendo provavelmente ainda muito jovens não compreendem as repercussões que este vício pode ter na vida futura deles.

Se suspeitardes que conheceis alguém numa situação de dependência de videojogos, chamai essa pessoa e mostrai-lhe este texto.

Tu. Sim, tu. Podes jogar, estás à vontade. Mas não jogues demasiado. Os jogos são importantes, sim. Mas há outras coisas. Arranja um passatempo, vai lá fora, conhece umas miúdas e tal. E joga! Claro, joga, mas não vivas só a vida que alguém criou para ti num ecrã à tua frente.

Não te esqueças de que, ao contrário do que acontece nos videojogos, tu só tens uma vida.

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INOMINÁVEIS

Nº 13 - Abril 2018