Helicayenne Magazine Nº 2 Mar 2021 | Page 26

O desafio de formar pessoas

“ outro ”, compreender as circunstâncias de cada um , ultrapassar barreiras , comunicar
momento de evasão mental . A primeira abordagem passa por perceberem que apesar do
Quem tem por missão formar pessoas depara-se com um grande desafio , tanto maior , quanto mais heterogénea for a plateia , o público alvo que se lhe apresenta . Grupos de pessoas diferentes , provenientes de universos diferentes , com características individuais e de personalidade próprias . Cada indivíduo é único e percepciona a realidade de forma diversa , em função das suas vivências , da sua experiência de vida . Formar significa estruturar , dar forma , organizar , transmitir conhecimentos e valores , capacitar pessoas para a vida , para exercerem a cidadania com espírito crítico , responsabilidade , capazes de tomar decisões e de traçar o seu próprio caminho . Em primeiro lugar , quando nos propomos formar pessoas , temos de ter sempre presente o conceito do “ outro ” que é objecto directo da nossa responsabilidade . É essencial o estabelecimento de pontes , entre o formador e os formandos para se conseguir “ agarrar ” as pessoas , motivá-las e envolvê-las no processo . Procurar sempre estabelecer uma relação empática , ter a capacidade para reconhecer a identidade do
de forma afectiva , fazer cada elemento sentir-se único e importante no processo . Todos estes factores predispõem para uma boa comunicação e desta forma contribuem grandemente para a capacitação de pessoas . Ajudar cada um a autoconhecerse , despertar e perceber as suas qualidades intrínsecas , valorizálas e sobretudo evidenciar como estas podem ser utilizadas em seu próprio benefício e da sociedade que o rodeia em geral . Partilho a minha experiência pessoal na formação de reclusos , em contexto prisional . Após o desafio aceite , no início , estava um pouco desconfortável . Era uma realidade totalmente nova , mas achei que podia ser muito enriquecedora e queria dar o meu contributo , ajudar a capacitar pessoas e contribuir para a sua reinserção social mais à frente , quando colocadas de novo em sociedade . Deparei-me com um grupo de formandos com uma postura insegura , cheios de dúvidas acerca das suas capacidades , alguns retraídos , tímidos , apáticos , outros mais expansivos e curiosos . A escola , para eles , representa um contacto com o exterior e , desse modo , um
contexto em que se encontram e das circunstâncias , não deixam de ser “ pessoas ” com uma individualidade própria ; que têm a capacidade de adquirir competências , novas valências , que lhes possibilitam mudar a sua vida e tornarem-se cidadãos válidos para a sociedade num futuro próximo . Incentivá-los a descobrirem neles capacidades , até ali desconhecidas , interiorizarem o valor da empatia , da solidariedade e da responsabilidade . Prepará-los para tomarem decisões assertivas , conhecerem os seus direitos e deveres como cidadãos . Quando o objectivo é alcançado é uma grande satisfação e realização pessoal ; todo o trabalho valeu a pena e a aprendizagem quase sempre foi mútua .
Joana Campos Cronista da Helicayenne
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