Hatari! Revista de Cinema HATARI! #02 Teen Movies (2015) | Page 11

Resumir o cinema adolescente da déca- da de oitenta a John Hughes seria um erro. Outros filmes que também dialogavam com os medos e anseios desse público na época devem ser reconhecidos como Quero Ser Grande (Big, 1988), de Penny Marshall, De volta Para o Futuro (Back to the Future, 1985), de Robert Zemeckis, Namorada Alu- guel (Can’t Buy Me Love, 1987), de Steve Rash, Dirty Dancing: Ritmo Quente (Dirty Dancing, 1987), de Emile Ardolino, Curso de Verão (Summer School, 1987), de Carl Reiner, só para citar alguns. O que parece unir todos esses filmes é a preocupação dos personagens com o futuro e de certa forma com os seus pais: muitos personagens pare- cem não querer crescer para não se tornarem iguais a seus pais ao mesmo tempo em que parecem dizer aos adultos: “Ei, estou aqui e você já foi assim um dia. Seu coração não tem que morrer porque você tem uma famí- lia, um emprego e um monte de contas para pagar”. Há uma certa urgência e um pedido de atenção nesses filmes, é fato. A geração John Hughes cresceu e hoje tem seus trinta anos, alguns beirando qua- renta. Muitos ainda solteiros, sem filhos, morando com os pais, tentando conciliar trabalho com prazer e mesmo os que moram sozinhos ainda sentem certa dificuldade em criar raízes. A passagem para a vida adulta é prorrogada; o coração continua batendo e é isso o que importa. Lembro agora do fil- me Toda Forma de Amor (Beginners, 2010), de Mike Mills, onde o personagem Oliver ao se referir a sua geração, essa que cresceu na década de oitenta, diz: “Nós não fomos à guerra. Nós não tivemos que nos esconder para transar. A nossa boa sorte nos permitiu sentir uma tristeza para a qual os nossos pais não tiveram tempo e junto com essa tristeza uma felicidade que eu nunca vi neles”. Tal- vez esteja aí a chave para entender os jovens personagens do Clube dos Cinco que cresce- ram: só ter sucesso não importa tanto, o que 10 importa é criar espaço para que os momentos de felicidade aconteçam. E qual o problema em casar, ter filhos, ficar vinte anos em um mesmo emprego e a famosa estabilidade econômica? Nenhum, a não ser o medo da estagnação, das separações (entenda aqui perda), das cobranças, do coração que para e de não mais ter tempo para poder sentir essa tristeza que nos mostra o caminho da felici- dade, até que por fim nos tornamos os nossos pais, o que talvez seja em algum momento inevitável. Longe de querer defender alguma ver- dade, todas as ideias apresentadas aqui são somente conjecturas, divagações de alguém que enquanto escreve esse texto tenta tam- bém se encontrar, se entender e olhar para sua própria geração para conseguir dar mais um passo adiante nessa difícil arte de cres- cer. Se tornar adulto, como quase tudo na vida, me parece uma escolha e toda escolha gera um pequeno buraco das coisas que po- deriam ter sido. Mas, não querer crescer pa- rece uma atitude covarde. A escolha é a nos- sa maior forma de ser livre e evitá-la pode levar a uma prisão sutil: a vida se torna um ato do acaso, das escolhas dos outros e não das nossas. Não há felicidade que possa ger- minar nem por um segundo em um terreno onde nada foi construído a partir de uma de- cisão consciente, de uma escolha seguida de certa fé no que virá. A própria possibilidade que uma decisão pode gerar muitas vezes já é motivo para um sorriso, por mais difícil ou triste que essa decisão seja. Crescer é um ato constante, diário, independe de idade. Criar raízes não é um problema, deixar de escolher com base no medo é que pode ser fatal. Os adolescentes da geração oitenta tão preocupados com o futuro agora se dão con- ta que o futuro chegou e tentam achar no presente uma forma de serem adultos sem perder a leveza. Alguns ainda assistem aos filmes de John Hughes, agora tidos como