Hatari! Revista de Cinema #05 Ficção Científica | Page 5

APRESENTAÇÃO Em sua 5ª edição, a Hatari! Revista de Cinema propõe uma série de reflexões acerca do gênero da ficção científica no cinema, explorando diferentes épocas e formatos. Iniciamos em 1902, com o pioneiro Viagem à Lua, de George Méliès, em um texto de Gabriele Maria, que se volta para uma exibição do filme a crianças de 5 anos em que, para elas, pou- co importa os limites entre ficção e científico, entre o cinema e o real. Em “Welcome to the Twilight Zone”, segundo texto da revista, Gabriela Quadros explora alguns episódios da série Além da Imaginação (1959- 1964) para concluir que, assim como as crianças que viram Viagem à Lua, a ficção científica da série passa longe de se interessar de fato pela ciência, para se interessar naquilo que é inerente à condição humana, do seu contexto histórico e de vivência, do seu medo e da solidão, da bondade e da violência. Inclusive, sobre violência e humanidade Mario Bava, em Planeta dos Vampiros (1965), disserta bem, e Lucas Jeison nos atenta para a necessidade que é o filme de Bava em tempos nos quais a mesma violência parece se repetir. Já Pedro Favaro faz uma reflexão acerca do filme The Bed Sitting Room (1969), uma comédia britânica de Richard Lester e das suas entre- linhas - ou camadas - que fogem da argumentação meramente sociológi- ca dos filmes pós-apocalípticos e vai para o que é simplesmente, mais uma vez, humano. A busca pela própria humanidade em sociedades dis- tópicas é, na verdade, assunto recorrente no gênero de ficção científica. Renan Turci analisa dois filmes de Terry Gilliam, Brazil: O Filme (1976) e Teorema Zero (2013), que, embora com 37 anos de diferença, tratam da mesma preocupação em contextos diferentes: a relação homem e máqui- na enquanto uma ansiedade dos anos 70 e as sequelas dessa relação in- tensificada nos anos 2000. Dialogando com essa paranoia acerca da tecnologia e o conse- quente pânico em torno da perda de identidade, Yasmin Rahmeier se aprofunda no cinema de David Cronenberg, sobretudo em A Mosca (1986), para refletir sobre a separação entre corpo e mente e reconhecer, nos filmes de Cronenberg, o corpo como uma identidade humana em busca de aceitação. Os filmes cyberpunks Blade Runner (Ridley Scott, 5