Hatari! Revista de Cinema #05 Ficção Científica | Page 28

bomba tinha feito não incomodasse mais a ela e aos demais convidados presentes na mesa.
Mesmo que os dois filmes aparentem ser diferentes entre si, para mim, na realidade, Teorema Zero poderia ser considerado uma estranha continuação de Brazil. Inicialmente a estética é muito similar, não só por ser o mesmo diretor com características cinematográficas fortes- com um uso recorrente de grandes angulares e a presença de algumas cores berrantes, por exemplo-, mas por toda a criação de um mundo caótico rico em detalhes aleatórios e visualmente potentes em ambos os filmes. Exemplos são, no mais antigo, muita tubulação, uma tecnologia estranha, com pseudo computadores com telas com lente de aumento, arquitetura quadrada, demonstrando a rigidez do sistema, permeados sempre por um cinza empresarial, enquanto no novo existe muitas telas de led, com propagandas diversas embutidas nela – construindo uma vasta poluição visual – e cenários sempre grandes em relação ao ser humano, fazendo analogia à pequenez do homem com relação ao universo. Embora os detalhes sejam diferentes entre si, a quantidade absurda deles faz com que esteticamente os dois filmes tenham uma semelhança.
Mas o maior ponto que faz acreditar nas duas como continuação uma da outra é a relação do protagonista com seu mundo.“ Eu não tenho sonhos” diz Lowry ao se retirar do restaurante, e assim- considerando sonhos como uma perspectiva de vida, algo maior para si- é que vivem os dois personagens, sem sonhos. Os dois vivem em seus respectivos contextos sossegados, alienados a sociedade a sua volta e mal reagindo a ela – é só perceber que os dois sequer possuem amigos-, com uma rotina fixa e monótona, saindo dela somente porque o mundo externo lhes obriga a fazer – o cheque não depositado a mulher de Butle no filme de 1976 e a tentativa de solucionar o teorema zero no de 2013. Até aqui, então, os dois se assemelham em sua forma de ver o mundo.
A diferença está na sua relação com o mundo, pois cada sociedade do filme foi baseada em aspectos vigentes nas épocas em que foram criados, um na década de 70 e outro na de 2010. No primeiro vemos uma crítica sobre o que poderia ocorrer com toda tecnologia que estava sendo criada na época, com o princípio dos computadores e automatização das coisas por máquinas com uma pseudo inteligência artificial, demonstrada
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