Hatari! Revista de Cinema #05 Ficção Científica | Page 26

26 Terry Gilliam é um diretor britânico que se tornou reconhecido por participar do grupo de comédia Monty Python, mundialmente famoso por suas piadas ácidas e/ou non-sense. Ficou famoso também pela sua estética muito própria e sólida que veio construindo com o passar do tem- po, em filmes cujos mundos são caóticos e de uma rica miscelânea tanto na arte quanto no roteiro. Dois exemplos de filmes que demonstram isso de forma clara são Brazil: O filme (1976) e Teorema Zero (2013), ambos baseados em criações de sociedades distópicas. Em Brazil o caos advêm da burocracia e da automatização do mundo, sendo por causa delas – uma mosca que cai em uma máquina, alterando o nome de Tuttle para Buttle, que nada tinha a ver com aquilo - que toda a história se desenrola. Sam Lowry, personagem principal e um dos melhores trabalhadores do setor público, tenta arrumar essa situação e acaba se envolvendo com uma moça que via em seus sonhos, sendo ela o único fator que faz Lowry realmente sair de sua existência medíocre e alienada para algo maior. Em Teorema Zero o mesmo tipo de personagem, que leva uma vida medíocre e alienada, se apresenta por Qohen Leth. Ele é um cientista da computação que, para trabalhar sozinho em casa, aceita a promoção de ajudar a decifrar o teorema que dá nome ao filme. Porém, diferente- mente de Sam, nosso personagem aqui tem uma motivação, um telefone- ma que dirá a ele o que deve fazer na vida. Isso nos dá uma percepção do tema principal do filme, a fé, sendo a contraposição disso – o niilismo absoluto – o próprio teorema zero, que tenta provar que, por causa de um buraco negro, tudo se extinguirá, se tornará nada. Essa dicotomia crença x descrença é apresentada pela arte, ações e diálogo, sendo esse último o fator enfraquecedor do poder da imagem no filme. Leth mora em uma antiga igreja, um símbolo clichê, fraco, demonstrando o quanto ele é uma pessoa de fé. Mas, ao mesmo tempo, esse local está velho e abandonado, com a presença de ratos no local, enfatizados em muitos planos, como os em que se joga pizza para eles comerem, simbolizando a fragilidade na crença em algo maior. A de- scrença, por sua vez, é apresentada pelo buraco negro, algo misterio- so e que tudo consome, um medo de nosso personagem que, uma vez no mundo virtual, externaliza seu medo levando a si próprio e Bainsley,